quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O quebra- cabeças de Arquimedes e a vida prática. Ou como justificar as suas imperfeições


Há alguns anos eu que nunca aprendi mesmo a jogar xadrez e me sinto um pouco recalcado por esta minha incapacidade, li que “quando mais alguém sabe jogar xadrez... mais sabe jogar xadrez...”.

Naturalmente quem disse isto também não devia jogar xadrez e tinha recalques contra jogadores que segundo o seu ponto de vista nada aprendiam com as suas jogadas magistrais além de jogar xadrez mesmo.

Jogadores de xadrez não viravam estrategistas, nem se tornavam grandes planejadores, nem gênios inventores de projetos de marketing que tenderiam sempre a dar mais certo do que aqueles imaginados pelos “não jogadores” de xadrez.

Tudo isto me veio à cabeça a partir da minha fascinação por um quebra-cabeças cuja autoria é atribuída a Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C.), que está sendo redescoberto como um dos maiores gênios da espécie humana, mas que é lembrado pela maioria pelo fato de ter saído correndo nu de uma banheira gritando “Eureka”. Ou achei, em grego.

Ele ao dar a sua corrida pelado descobriu que o seu corpo imerso deslocava exatamente o seu volume em água.

Se a banheira estivesse cheia até a borda toda a água derramada quando Arquimedes entrasse nela seria igual à massa de Arquimedes com precisão absoluta sem precisar fazer nenhuma conta para saber, por exemplo, a massa das pálpebras, o efeito do umbigo, e qualquer outra sutileza para chegar ao número definitivo e correto.

Há um novo livro no mercado – o Codex Arquimedes – que traz ao centro do palco um Arquimedes inventor e engenheiro e o primeiro sábio a dentre outros feitos ter calculado o valor de PI.

Esta história do PI e de sua importância, conforme pesquisa rápida, se torna um conhecimento importantíssimo quando sabemos que o rolar das ondas numa praia, o trajeto aparente diário das estrelas no céu, , o movimento das engrenagens e rolamentos, a propagação dos campos eletromagnéticos e um sem número de fenômenos e objetos, do mundo natural e da Matemática, estão associados às idéias de simetria circular e esférica. Tudo baseado no 3,1416 etc, que estudamos no colégio.

O estudo e uso de círculos e esfera era a especialidade de Arquimedes . O Pi é uma das constantes universais da Matemática, e se não tivesse sido percebido praticamente não haveria matemática, para ser o mais objetivo possível.

Portanto quando nós nos deparamos com um quebra-cabeças inventado por uma pessoa como Arquimedes temos de dar a ele uma atenção especial. O quebra-cabeças chamado de stomachion está no topo desta página de onde você pode copiá-lo.

O nome em grego era relacionado às dores de estomago que afetavam a quem procurava montar as suas 14 peças no formato de um quadrado.

Passados os tempos descobriu-se que o quadrado pode ser feito com mais de 2 000 combinações das partes o que humilha ainda mais quem não consegue montar o quadrado em apenas uma arrumação de suas 14 peças.

Tudo isto me veio à cabeça por causa das habilidades dos jogadores de xadrez.

Será que as pessoas que conseguem resolver o stomachion e montar os quadrados são pessoas melhores e mais capacitadas do que aquelas que não conseguem resolver o problema?

Na minha visão de marqueteiro em que as reações humanas desejadas por nós são deflagradas por propostas sutis em que buscamos tocar nas cordas mais profundas da sua razão e das suas emoções tenho a quase certeza absoluta que nada ocorre no mundo com a precisão de um quebra-cabeças que encaixa com precisão todas as suas peças.

De saída acho que na vida real o encaixe perfeito NUNCA existe, mas também tenho a certeza de que o que pareça mais próximo do encaixe perfeito é o grande segredo do sucesso dos que conseguem ter sucesso.

Todas as atitudes humanas – desde chupar um Chica-Bom, como dizia o Nelson Rodrigues para definir a coisa mais simples do mundo que podia ser mal feita pelos menos capacitados – abrem perspectivas para a execução falha.

No esforço de fazer a coisa certa – montar o quebra-cabeças da vida com todas as suas peças alinhadas certinho – a maioria das pessoas tem dores de estômago que hoje atendem pelo nome de stress. Stress, todos sabemos, mata.

Se você copiar e montar o quebra-cabeças do Arquimedes será muito bom para o seu ego. Mas, lanço apenas o meu alerta; não pense que ao fazer isto você seja mais capaz do que quem não consegue montar o stomachion .

Pois, estes incapazes podem ser por exemplo o seu chefe, seu governador, seu presidente e serem absolutamente incapazes de pensar em resolver o stomachion.

Mas quem consegue fazer mais coisas com mais sucesso têm a capacidade de diante de um problema sério chegar à solução mais próxima da perfeição, embora possa estar longe da perfeição matemática.

Acho que a grande virtude desejada e pedida a Deus é saber chegar à melhor solução. E não morrer por não ter chegado à solução perfeita.

3 comentários:

Braulio França disse...

Isso tudo é quase a mesma coisa em ser eficaz e eficiente. Quem consegue resolver o quebra cabeças, o qual eu tive quando criança que era feito de plástico, não consegue ser eficaz e é eficiente.

Algumas décadas atrás houve um problema com as geladeiras nos EUA. Os americanos compravam uma geladeira nova e deixavam a velha, desligada, na garagem. Então as crianças quando brincavam de esconde-esconde, se escondiam dentro da geladeira, mas antes elas tinham maçanetas com trancas por fora para mantê-las fechadas. Desta forma as crianças não poderiam abri-las e morriam asfixiadas...

Muitos engenheiros pensaram em maneiras de resolver este problema e então decidiram fazer uma forma de abri-la por dentro e pronto, as crianças estariam salvas. Esta maneira seria eficiente porém não seria eficaz pois os custos seriam maiores, além de que uma geladeira não era feita para este fim.

Quiseram também fazer uma campanha na tv em rede nacional alertando para o risco de morte, mas que também não era eficaz e muito cara, até que apareceu um cidadão comum com à idéia de colocar um ímã dentro da borracha da porta...

Não precisamos ser perfeitos para sermos eficazes!

Quanto ao xadrez, meu finado tio Ricardo me ensinou a jogar quanto eu tinha 7 anos e nunca me deixou ganhar dele, até que em um final de semana na casa da minha avó, exatamente após o almoço de família de domingo, no bairro de Aclimação em São Paulo, eu ganhei a minha primeira partida. Tinha 13 anos, foram anos de disputa para consegui-la. Depois com 15 anos ganhei do Software Chess no Apple II e com 16 ganhei do Chess no PC da IBM e nunca mais joguei.

Obs. Espero que os meus textos inspirem os colegas de almanaque a escreverem também. Abraço! Pio eu adoro Chicabon...

Fábio Adiron disse...

Nada contra o Arquimedes, mas a minha impressão é a de que ele conhecia os jogos chineses, em particular o Tangram

Não sei se quem joga xadrez ou Tangram planejam melhor. Mas não há como negar uma correlação forte entre alguns tipo de inteligência e determinados jogos.

Pio Borges disse...

O incrível é que neste stomachion estão reunidas todas as relações entre as áreas dos triângulos e a relação delas para formar um quadrado.

Montei um stomachion com a ajuda do pessoal do estúdio e realmente senti dor no estômago para montar o quebra-cabeças.

O que mais me fascina num desafio destes é constatar a limitação de minhas capacidades há 2200 anos !

Gostaria de enriquecer este Almanaque com pitadas da história de inteligência humana, que como todos sabem assumiu a sua máxima expansão com o advento do marketing direto, que a todos nós inspira.

Não é?