quinta-feira, 12 de julho de 2012

Os objetivos de um estudante dedicar-se ao trivium e do quadrivium eram obter o domínio das 7 artes do homem.





Era o passo seguinte à alfabetização.

E não se conhece quem tivesse na época contestado a sabedoria do trivium e do quadrivium.

A alfabetização era mesmo o primeiro passo.

Os passos seguintes tinham de seguir um formato padrão para que o estudante se tornasse um mestre.

Foi o primeiro sinal do que viria a ser um BA, bacharel em artes.

A evolução alguns séculos depois dos conhecimentos do trivium e quadrivium.

Só depois de ser um BA é que as pessoas deveriam buscar conhecimentos técnicos como a arquitetura ou a medicina. Ou, na Idade Média, a conhecimentos mais sofisticados como filosofia e teologia.

Entender os homens e os deuses era indicação de sabedoria mais abrangente, e sempre mais valorizada.

Era consenso em todas as Universidades da Idade Média que para dar qualquer passo adiante o conhecimento prévio das 7 artes era obrigatório.

Só daí em diante havia sentido em buscar um novo conhecimento “técnico”. Mesmo que fossem atividades tão importantes quanto a medicina, engenharia ou arquitetura.

O trivium e o quadrivium eram o alicerce – assim como o latim era a língua – para que alguém deixasse de ser um ignorante e pudesse se tornar uma pessoa de saber respeitável.

A evolução do trivium e do quadrivium viria a ser o conjunto de conhecimentos transferido aos jovens de hoje em dia desde os primeiros estudos até completar o curso médio.

Seria um curso secundário mais do que completo que teria a finalidade de preparar jovens para se tornarem os profissionais “técnicos” da atualidade, desde os mais geniais aos menos dotados.

No entanto, dois dos mais bem sucedidos novos gênios, Bill Gates e Steve Jobs não
completaram seus cursos universitários.


Chegaram aonde chegaram por seus próprios gênios e pela formação que tiveram nos seus cursos secundários e pela vida em suas famílias.

Foi aí que eles encontraram o caldo de cultura necessário para inventarem ou criarem as suas empresas.


No que eles estavam certos e no que todos os demais erraram?


Como já vimos no primeiro post sobre este tema o quadrivium era composto pela aritmética (a teoria do número); pela música (a aplicação da teoria do número),pela geometria (a teoria do espaço) e pela astronomia (a aplicação da teoria do espaço).

Chegava ao quadrivium o estudante que demonstrasse o seu domínio da Gramática, da Lógica e da Retórica.

Eles precisavam ser aprovados no trivium, no domínio da palavra, para terem acesso às sutilezas do quadrivium.

A aritimética capacitava o estudante avaliar todas as coisas com precisão utilizando sistemas de notação para chegar aos mesmos resultados para o mesmo problema.

Desde que tivesse conseguido conceituar o problema.

Ou enunciá-lo com precisão.

Pois, ao fazer isto a solução do problema – de qualquer problema - se tornava uma mera consequência.

O problema bem formulado ( e para conseguir explicar alguma coisa era preciso usar a Gramática, a Lógica e a Retórica) indicaria o encaminhamento perfeito para a sua solução.

A solução de qualquer problema está predefinida quando se consegue definir qual é o problema.


As contas são apenas o sistema para chegar às soluções cuja lógica já terá sido definida.

Para resolver um problema da área de “exatas” era requerida a capacidade de definir as incógnitas e utilizar a aritmética para chegar às soluções corretas.

E para definir as incógnitas era preciso deixar de lado tudo o que não teria qualquer efeito para chegar à solução.

Quando tenho em mãos uma calculadora científica (que seria vista como um milagre no tempo das tabelas de logarítmos impressas e as contas e mais contas feitas na hora) constato que a minha formação foi incapaz de me permitir resolver problemas que estariam ao alcance de meus dedos.

Simplesmente por eu saber fazer contas...

Ao ler o manual de uma hp científica constato que poderia usá-la para calcular uma estrutura de ponte ou uma rampa de lançamento de foguetes, mas como não consigo formular o problema sou incapaz de definir quê cálculos preciso fazer para que a minha ponte imaginada se torne numa ponte real.

Ao não conseguir fazer isto me defino como incapaz de resolver este problema

E até, como se verá. como ainda mais incapaz do que quem não tenha acesso a uma calculadora científica. Pois, apesar de ter acesso a uma me vejo incapacitado para usá-la para resolver um problema .

A aritmética representa para o quadrivium o que a gramática é para o trivium.

E o exemplo da calculadora demonstra de forma indiscutível que quem resolve problemas não é quem faz as contas precisas. É quem faz as contas necessárias por que entende qual o problema a ser resolvido.


Uma lição importantíssima que vai muito além da aritmética.

Você só se é capaz de resolver um problema se puder definir exatamente qual o problema a ser resolvido.

Se o problema não for enunciado todas as respostas servem e nenhuma delas será certa.


O salto do saber saber para o saber fazer requer a passagem por outras estações do aprendizado e a entrada no quadrivium revela – sem precisar de ser tomada como um currículo obrigatório – que nem nele nem na vida adianta “colar” para passar de ano.

Os néscios ( os que não sabem) eram reprovados por eles mesmo. Inapelavelmente. E eles sabiam disto. O que era muito bom.

A consciência pessoal da ignorância é o primeiro passo para chegar ao saber.


Enquanto o estudante se engana e vive o seu engano perde um tempo que jamais será capaz de recuperar, pois como todos sabem , o tempo é a única moeda de valor de que dispomos na vida.

O que leva um estudante a iludir-se em relação ao que precisa saber – e não sabe – é a vaidade. Não precisa nem ser a vaidade de saber tudo, mas a pequena vaidade de parecer saber mais do que o seu colega.

E é por trás desta vaidade que se cometem os maiores erros e as maiores injustiças do homem em relação aos outros homens.

A vaidade tenta tornar o não saber na grande virtude dos que detem alguma parcela de poder sobre os demais.

Ela se torna perigosa quando é exercida por alguém que tenha comando sobre os demais.
Há uma máxima lusitana que diz:

Se queres conhecer o mau, dai-lhe o pau.


O mano militari é grande argumento de quem não tem argumento.

A percepção de que o seu vizinho, seu amigo, seu colega demonstra mais segurança e competência diante da mesma situação é traumática para quem se dá conta de suan inferioridade.

E chega ao mais bem dotado – quando ele percebe como a sua performance afeta o inferioriizado – como uma surpresa desagradável.

No caminho do saber saber é preciso estar preparado tanto para a constatação da superioridade quanto a da inferioridade.

Mais ainda quando se avança nas outras colunas da educação.Saber fazer, fazer saber e fazer fazer, como fases da vida têm de estar sempre baseadas na mais obstinada busca da verdade inconstestável diante de uma mente aberta ao debate, mas firmemente apoiada ... no trivium e quadrivium, ou na sua evolução.

Um fato que passa despercebido tal como a nossa respiração e os nossos batimentos cardíacos é que todos nós homens e mulheres vivos neste momento possuimos – todos nós – a mais magnificente massa de martéria do universo tal como o conhecemos: o cérebro.


Não é apenas o cérebro de um Einstein, ou de um outro grande gênio reconhecido por todos.

Mas, qualquer cérebro, que tem a capacidade de receber, organizar e conservar dados que irão superar com muita sobra todas as necessidades de uma vida inteira.

Isaac Asimov, o mais completo decifrador e explicador de tudo o que existe e de tudo o que não existe, escreveu literalmente sobre tudo. Se fosse parar numa viagem pelo tempo em Atenas do 5º século a.C. seria entronizado ao Olimpo como o Deus a ser invejado por todos os deuses.

E a grande pergunta não feita ao estudar a evolução das espécies seria para quê?

Só com o potencial desperdiçado dos cérebros de todos combinado poderíamos criar milhões de outros mundos.

Vamos especular bem simploriamente.

O jacaré “evoluiu” com a sua mandíbula e seus dentes para poder ser de fato um jacaré. Ele ataca, morde, dilacera e engole sem muitos recursos para o animal atacado as proteínas para alimentar-se todos os dias.

Nem a boca do jacaré, nem o seu couro, nem sua capacidade de nadar silenciosamente, nem seu olfato nada disto ele tem em excesso.

Os homens no entanto têm em excesso o bem mais precioso que ao longo de suas vidas os conduzirão pelos quatro pilares da educação saibam eles disto ou não.

Se nos comparássemos a automóveis seríamos todos carros de fórmula 1, com tração das quatro rodas, capazes de navegar pelos mares, de levantar voo, de mergulhar, de acomodar quantos passageiros que fosse preciso e no entanto nos vermos como calhambeques cheios de limitações, no máximo como fuscas envenenados.

Embora possa parecer um exagero a comparação ainda fica devendo. O cérebro é muito mais do que qualquer descrição a seu respeito.

Volto ao tema mais tarde, mas deixo aqui um fato histórico para incentivar a sua imaginação:

Galileu Galilei provocou a revolução mais radical na história da Humanidade.

Galileu tirou a Terra do centro do Universo e a colocou com um planeta do sol.

Literalmente Galileu tirou o homem do centro do Universo e o tornou um simples habitante da Terra.

A Igreja que baseava muitos de seus ensinamentos no conceito de céu físico, com um Deus criador de todas as coisas que tinha o seu filho sentado à direita ficou tão abalada que o prendeu.

Nunca havia pensado mais profundamente nesta atitude de Galileu de confrontar-se com o mundo inteiro – já que o Mundo era a Europa e suas universidades.

A Idade Média, ou os ano sombrios da evolução do saber de repente é inteiramente redimida pela simples presença de um único estudante bem formado.

Toda a ousadia de Galileu que escapou da fogueira por um triz foi sustentada por um
documento preciso na Gramática, na Lógica e na Retórica.

Vou buscar esta defesa de Galileu para comprovar ser ela a melhor prova do sucesso do trivium e do quadrivium...

E como este conceito poderá ser muito útil para enfrentarmos o desafio de aprender o que será preciso aprender - e descobrir - nos próximos anos deste nosso século 21.

A China passou a ser a maior vendedora de automóveis do mundo...Isto vai afetar o seu futuro...

Os números não mentem jamais.
.

Há muita gente que contesta estas "verdades" relacionadas aos números, mas a verdade de hoje me deixou acachapado, demolindo muitos preconceitos e criando meia dúzia de outros.

A China é a maior fabricante e vendedora de automóveis do mundo.



Veja os números:

1º - China: 1,339 milhão
2º - Estados Unidos: 1,334 milhão
3º - Japão: 391 mil
4º - Alemanha: 308 mil
5º - Brasil: 274 mil
6º - Rússia: 260 mil
7º - Índia: 243 mil
8º - França: 197 mil
9º - Grã-Bretanha: 183 mil
10º - Canadá: 175 mil


A China e os Estados Unidos estão disparados à frente dos demais.

O Brasil é o quinto.

Em 1955 fabricávamos meia dúzia de veículos por ano. A China era outra porcaria e hoje ninguém pode ter mais dúvidas de como a banda vai tocar neste século 21.

Os Brics, sem a África do Sul, estão se saindo bem nesta foto.Automóveis são inquestionavelmente sinais evidentes de riqueza.

Os Estados Unidos, Alemanha, França e Grã-Bretanha estão perdendo posições no pódio prenunciando que como no anúncio da Ford dos anos 50 "Há um carro chinês no seu futuro"..

As guerra matavam milhões de pessoas e eram declaradas pelos motivos mais diversos. Mas tinham como grande motivo oculto ampliar o domínio sobre a economia dos povos derrotados.

Gêngis Khan invadia, trucidava e cobrava tributos, indenizações da mesma forma que os vitoriosos da primeira guerra mundial cobraram as indenizações da Alemanha que tornaram os nazistas aceitáveis pelos alemães tão educados.

O Japão começou a sua confusão no que veio a se chamar de Segunda Guerra Mundial por que queria dominar economicamente a bacia do Pacífico.

O plano Marshall implantado na Europa depois da Segunda Guerra Mundial visava recuperar as populações de países destruídos, pela recuperação de sua produção e de seus mercados.

Agora a China na sua era pós Mao, um período assustador de Falanges Vermelhas botando abaixo tudo o que lembrasse a formalidade do passado chinês ou mundial ( guardas vermelhos quebraram estátuas e budas da mesma forma que impediam músicos de estudar Chopin ) teve o seu próprio plano Marshall que está dando certo.

São comunistas? São.
São capitalistas? São
São determinados e buscam resultados? São.

Estão determinados a conquistar a sua bacia do Pacífico que agora passou a se chamar de mundo? Claro que estão.

Disto tudo todo mundo sabe, mas os números de hoje sobre o mês de maio da indústria automobilística como uma ilustração que vale mil palavras demonstra o sucesso da grande marcha.

É um novo momento de novos Gêngis Khans. Tal como o Gêngis Khan original as conquistas mongólicas não se eternizaram, como as conquistas tornadas evidentes neste números também não serão.

O objetivo do Almanaque aqui é colocar diante de seus olhos um "food for thought" É para pensar por enquanto e para agir quando você chegar a alguma conclusão.

terça-feira, 3 de julho de 2012

AH! TENHO PENA DE NÃO TER ESTUDADO O TRIVIUM E O QUADRIVIUM. MAS, VOU TRATANDO DE QUEBRAR O GALHO...








Os objetivos de um estudante da Idade Média ao dedicar-se ao trivium e do quadrivium eram obter o domínio das 7 artes do homem.

Era o passo seguinte à alfabetização.

A alfabetização era o primeiro passo.

Os passos seguintes tinham de seguir um formato bem criterioso para que o estudante se tornasse um mestre. Um mestre acima de qualquer favorecimento.

Foi o primeiro sinal do que viria a ser um BA, um bacharel em artes. Uma evolução alguns séculos depois dos conhecimentos do trivium e quadrivium.

Só depois de ser um BA é que as pessoas deveriam buscar conhecimentos técnicos como a arquitetura ou a medicina. Ou, na Idade Média, a estudos mais sofisticados como filosofia e teologia.

Para ousarem entender os homens e os deuses.

Era consenso em todas as Universidades da Idade Média que para dar qualquer passo adiante o conhecimento prévio das 7 artes era obrigatório.

Só daí em diante havia sentido em buscar um novo conhecimento “técnico”. Mesmo que fossem atividades tão importantes quanto medicina, engenharia ou arquitetura.

O trivium e o quadrivium eram o alicerce – assim como o latim era a língua – para que alguém deixasse de ser um ignorante e pudesse se tornar uma pessoa de saber respeitável.

A evolução do trivium e do quadrivium viria a determinar o conjunto de conhecimentos transferido aos jovens de hoje em dia desde os primeiros estudos até completar o curso médio.

Seria um curso secundário mais do que completo que teria a finalidade de preparar jovens para se tornarem os profissionais “técnicos” da atualidade, desde os mais geniais aos menos dotados.

No entanto, dois dos mais bem sucedidos novos gênios, Bill Gates e Steve Jobs não completaram seus cursos universitários.

Chegaram aonde chegaram por seus próprios gênios , pela formação que tiveram nos seus cursos secundários e pela vida em suas famílias.

Foi aí que eles encontraram o caldo de cultura necessário para inventarem ou criarem as suas empresas.

No que eles estavam certos e no que todos os demais erraram?

O objetivo da educação não é preparar todas as pessoas para serem os melhores profissionais
?

Como já vimos no primeiro post sobre este tema o quadrivium era composto pela aritmética (a teoria do número); pela música (a aplicação da teoria do número),pela geometria (a teoria do espaço) e pela astronomia (a aplicação da teoria do espaço).

Chegava ao quadrivium o estudante que demonstrasse o seu domínio da Gramática, da Lógica e da Retórica.

Eles precisavam ser aprovados no trivium, no domínio da palavra, para terem acesso às sutilezas do quadrivium.

A aritimética capacitava o estudante a avaliar todas as coisas com precisão utilizando sistemas de notação para chegar aos mesmos resultados para o mesmo problema.

Desde que tivesse conseguido conceituar o problema.







Ou enunciá-lo com precisão. Pois, ao fazer isto a solução do problema – de qualquer problema - se tornava uma mera consequência.

O problema bem formulado ( e para conseguir explicar alguma coisa era preciso usar a Gramática, a Lógica e a Retórica) ,indicaria o encaminhamento perfeito para a sua solução.

A solução de qualquer problema começa quando se consegue definir qual é o problema
.

As contas são apenas o sistema para chegar às soluções cuja lógica já terá sido definida.

Para resolver um problema da área de “exatas” era requerida a capacidade de definir as incógnitas e utilizar a aritmética para chegar às soluções corretas.

E para definir as incógnitas era preciso deixar de lado tudo o que não teria qualquer efeito para chegar à solução. E ater-se ao o que realmente é o problema.

Quando tenho em mãos uma calculadora científica (que seria vista como um milagre no tempo das tabelas de logarítmos impressas e as contas e mais contas feitas na hora) constato que a minha formação foi incapaz de me permitir resolver problemas que estariam ao alcance de meus dedos.

Simplemente por eu saber fazer contas...

Ao ler o manual de uma hp científica constato que poderia usá-la para calcular uma estrutura de ponte ou uma rampa de lançamento de foguetes, mas como não consigo formular o problema sou incapaz de definir quê cálculos preciso fazer para que a minha ponte imaginada se torne numa ponte real.

Ao não conseguir fazer isto me defino como incapaz de resolver este problema

E até como ainda mais incapaz do que quem não tenha acesso a uma calculadora científica. Pois, apesar de ter acesso a uma me ver incapacitado para usá-la para resolver um problema .

A aritmética representa para o quadrivium o que a gramática é para o trivium.



E o exemplo da calculadora demonstra de forma indiscutível que quem resolve problemas não é quem faz as contas precisas. É quem faz as contas necessárias por que entende qual o problema a ser resolvido.

Uma lição importantíssima que vai muito além da aritmética.

Você só se é capaz de resolver um problema se puder definir exatamente qual o problema a ser resolvido.



Se o problema não for bem enunciado todas as respostas servem e nenhuma delas será certa.

O salto do saber saber para o saber fazer requer a passagem por outras estações do aprendizado e a entrada no quadrivium revela – sem precisar de ser tomada como um currículo obrigatório – que nem nele nem na vida adianta “colar” para passar de ano.

Os néscios ( os que não sabem) eram reprovados por eles mesmos. Inapelavelmente. E eles sabiam disto. O que era muito bom.

A consciência pessoal da ignorância é o primeiro passo para chegar ao saber.

Enquanto o estudante se engana e vive o seu engano perde um tempo que jamais será capaz de recuperar, pois como todos sabem , o tempo é a única moeda de valor de que dispomos na vida.


O que leva um estudante a iludir-se em relação ao que precisa saber – e não sabe – é a vaidade. Não precisa nem ser a vaidade de saber tudo, mas a pequena vaidade de parecer saber mais do que o seu colega.

E é por trás desta vaidade que se cometem os maiores erros e as maiores injustiças do homem em relação aos outros homens.

A vaidade tenta tornar o não saber na grande virtude dos que detem alguma parcela de poder sobre os demais.

Ela se torna perigosa quando é exercida por alguém que tenha comando sobre os demais.
Há uma máxima lusitana que diz:

Se queres conhecer o mau, dai-lhe o pau.

O mano militari é grande argumento de quem não tem argumento.

A percepção de que o seu vizinho, seu amigo, seu colega demonstra mais segurança e competência diante da mesma situação é traumática para quem se dá conta de sua inferioridade.

E chega ao mais bem dotado – quando ele percebe como a sua performance afeta o inferioriizado – como uma surpresa desagradável.

No caminho do saber saber é preciso estar preparado tanto para a constatação da superioridade quanto a da inferioridade.

Mais ainda quando se avança nas outras colunas da educação.Saber fazer, fazer saber e fazer fazer, como fases da vida têm de estar sempre baseadas na mais obstinada busca da verdade inconstestável diante de uma mente aberta ao debate, mas firmemente apoiada ... no trivium e quadrivium, ou na sua evolução.

Um fato que passa despercebido tal como a nossa respiração e os nossos batimentos cardíacos é que todos nós homens e mulheres vivos neste momento possuimos – todos nós – a mais magnificente massa de matéria do universo tal como o conhecemos: o cérebro.
Não é apenas o cérebro de um Einstein, ou de um outro grande gênio reconhecido por todos.


Mas, qualquer cérebro, que tem a capacidade de receber, organizar e conservar dados que irão superar com muita sobra todas as necessidades de uma vida inteira.

Isaac Asimov, o mais completo decifrador e explicador de tudo o que existe e de tudo o que não existe, escreveu literalmente sobre tudo. Se fosse parar numa viagem pelo tempo em Atenas do 5º século a.C. seria entronizado ao Olimpo como o Deus a ser invejado por todos os deuses.

E a grande pergunta não feita ao estudar a evolução das espécies seria para quê?

Só com o potencial desperdiçado dos cérebros de todos combinados poderíamos criar milhões de outros mundos.

Vamos especular bem simploriamente.

O jacaré “evoluiu” com a sua mandíbula e seus dentes para poder ser de fato um jacaré.

Ele ataca, morde, dilacera e engole -sem muitos recursos para o animal atacado - as proteínas para alimentar-se todos os dias.

Nem a boca do jacaré, nem o seu couro, nem sua capacidade de nadar silenciosamente, nem seu olfato nada disto ele tem em excesso. O jacaré evoluiu para a sua auto-suficência e só.

Jacarés servem exatamente para serem jacarés.



Os homens no entanto têm em excesso o bem mais precioso que ao longo de suas vidas os conduzirão pelos quatro pilares da educação saibam eles disto ou não.

Se nos comparássemos a automóveis seríamos todos carros de fórmula 1, com tração das quatro rodas, capazes de navegar pelos mares, de levantar voo, de mergulhar, de acomodar quantos passageiros que fosse preciso e no entanto nos vemos como calhambeques cheios de limitações, no máximo como fuscas envenenados.

Esta metáfora exagerada ainda fica devendo. O cérebro é muito mais do que qualquer descrição que possa ser feita a seu respeito.



Volto ao tema mais tarde, mas deixo aqui um fato histórico para incentivar a sua imaginação:

Galileu Galilei provocou a revolução mais radical na história da Humanidade.

Galileu tirou a Terra do centro do Universo e a colocou com um planeta do sol.

Literalmente Galileu tirou o homem do centro do Universo e o tornou um simples habitante da Terra.

A Igreja que baseava muitos de seus eninamentos no conceito de céu físico, com um Deus criador de todas as coisas que tinha o seu filho sentado à direita ficou tão abalada que o prendeu.

Nunca havia pensado mais profundamente nesta coragem suprema de Galileu ao dedcidir confrontar-se com o mundo inteiro – já que o Mundo era a Europa e suas universidades.

A Idade Média, ou os anos sombrios da evolução do saber é inteiramente redimida pela simples presença de um único estudante bem formado. E confiante em sua formação.

Toda a ousadia de Galileu que escapou da fogueira por um triz foi sustentada por um documento preciso na Gramática, na Lógica e na Retórica.

Vou buscar esta defesa de Galileu de sua teoria heliocêntrica para comprovar ser ela a maior evidência do sucesso do trivium e do quadrivium...




segunda-feira, 2 de julho de 2012

A questão da vocação e como ela pode ser compatibilizada pelos anos de estudo...



Uma alma contente deve ter esta expressão...



Tenho nestes últimos dias dedicado muita atenção ao que ensinamos e aprendemos, especialmente na Universidade.

O Roberto Pio Borges da Cunha, meu filho, também com 30 anos menos do que eu, escreveu um texto compartilhado aqui no Almanaque do Pio.

A carreira universitária só se justifica pelo prazer
Roberto Pio Borges da Cunha – Psicologia, Botafogo.



Vivemos em um mundo regido pela instabilidade: em crise de identidade, países, religiões, famílias, indivíduos foram levados a uma permanente transformação que ninguém sabe quando e como terminará.

Diante de tantas mudanças, a universidade foi contestada em 68 pelos estudantes em Paris e, nas décadas seguintes, pelo mercado, em quase todo mundo.

E a universidade se adaptou: tornou a sala de aula menos formal, firmou parcerias com a iniciativa privada com o fim de obter mais recursos para pesquisa, introduziu a tecnologia no ensino.

Aproximou-se das demandas do mercado, ao buscar formar profissionais e produzir pesquisas fundamentais para a sociedade. Afirmou-se como um espaço de reflexão sobre as transições do mundo.

Mas, em sua essência, continua a exigir longos anos de dedicação, seja de quem estuda, seja de quem pesquisa, sem garantias, além do diploma ao final.

O melhor dos estudantes, atento aos professores e aos livros, nas horas vagas, assiste palestras, dedica-se a cursos extracurriculares. Contudo, em seu íntimo, carrega a dúvida: “No final, com o diploma na mão, terá valido à pena? Conseguirei conquistar meu espaço no mundo? E se, ao terminar a faculdade, nada disso tiver qualquer importância?”.


A resposta, quase sempre, é que haverá espaço para os que se entregam totalmente e acumulam conhecimentos que, no turbilhão do cotidiano, poucos têm. “Quem se dedica, chega lá!”.

Pode ser, mas não há instituição que ofereça sucesso garantido ou o seu tempo de volta. Justamente o valor mais precioso em todas as épocas, e o que se tornou ainda mais fugidio atualmente, não pode ser reposto.

Muito pior do que perder dinheiro é perder os dias que passam.

Frente a tantas incertezas, a carreira universitária só se justifica pela paixão do estudante pelo que é ensinado. É a garantia do momento vivido. O instante em que não se deseja estar em nenhum outro lugar, seja a cama acolhedora em seu sono e sonhos reparadores, a praia mais que perfeita da primavera, ou o próprio mercado de trabalho, com seus ideais de conquista.

Inspirados em Epicuro, cada aluno deve justificar sua carreira acadêmica pelo prazer que obtém a cada minuto que aprende, que reflete, que pesquisa.

E será o prazer sincero, que o qualificará futuramente como profissional, não, necessariamente, dos que recebem maiores salários, mas dos poucos que transitam pela vida com a alma contente.

Fiquei muito feliz com esta ideia do Roberto de buscar uma alma contente.