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segunda-feira, 2 de julho de 2012
A questão da vocação e como ela pode ser compatibilizada pelos anos de estudo...
Uma alma contente deve ter esta expressão...
Tenho nestes últimos dias dedicado muita atenção ao que ensinamos e aprendemos, especialmente na Universidade.
O Roberto Pio Borges da Cunha, meu filho, também com 30 anos menos do que eu, escreveu um texto compartilhado aqui no Almanaque do Pio.
A carreira universitária só se justifica pelo prazer
Roberto Pio Borges da Cunha – Psicologia, Botafogo.
Vivemos em um mundo regido pela instabilidade: em crise de identidade, países, religiões, famílias, indivíduos foram levados a uma permanente transformação que ninguém sabe quando e como terminará.
Diante de tantas mudanças, a universidade foi contestada em 68 pelos estudantes em Paris e, nas décadas seguintes, pelo mercado, em quase todo mundo.
E a universidade se adaptou: tornou a sala de aula menos formal, firmou parcerias com a iniciativa privada com o fim de obter mais recursos para pesquisa, introduziu a tecnologia no ensino.
Aproximou-se das demandas do mercado, ao buscar formar profissionais e produzir pesquisas fundamentais para a sociedade. Afirmou-se como um espaço de reflexão sobre as transições do mundo.
Mas, em sua essência, continua a exigir longos anos de dedicação, seja de quem estuda, seja de quem pesquisa, sem garantias, além do diploma ao final.
O melhor dos estudantes, atento aos professores e aos livros, nas horas vagas, assiste palestras, dedica-se a cursos extracurriculares. Contudo, em seu íntimo, carrega a dúvida: “No final, com o diploma na mão, terá valido à pena? Conseguirei conquistar meu espaço no mundo? E se, ao terminar a faculdade, nada disso tiver qualquer importância?”.
A resposta, quase sempre, é que haverá espaço para os que se entregam totalmente e acumulam conhecimentos que, no turbilhão do cotidiano, poucos têm. “Quem se dedica, chega lá!”.
Pode ser, mas não há instituição que ofereça sucesso garantido ou o seu tempo de volta. Justamente o valor mais precioso em todas as épocas, e o que se tornou ainda mais fugidio atualmente, não pode ser reposto.
Muito pior do que perder dinheiro é perder os dias que passam.
Frente a tantas incertezas, a carreira universitária só se justifica pela paixão do estudante pelo que é ensinado. É a garantia do momento vivido. O instante em que não se deseja estar em nenhum outro lugar, seja a cama acolhedora em seu sono e sonhos reparadores, a praia mais que perfeita da primavera, ou o próprio mercado de trabalho, com seus ideais de conquista.
Inspirados em Epicuro, cada aluno deve justificar sua carreira acadêmica pelo prazer que obtém a cada minuto que aprende, que reflete, que pesquisa.
E será o prazer sincero, que o qualificará futuramente como profissional, não, necessariamente, dos que recebem maiores salários, mas dos poucos que transitam pela vida com a alma contente.
Fiquei muito feliz com esta ideia do Roberto de buscar uma alma contente.
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