quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Continuação - Dados para ajudar você a chegar a conclusões sobre ser Brasileiro

1. Temos um território de mais de 8 milhões de quilõmetros quadrados que pode ser usado para plantar todas os principais produtos agrícolas. Este nosso Brasil imenso, "país essencialmente agrícola" durante boa parte do século passado, país sem petróleo em seu sub-solo muito menos com perspectivas de auto-suficiência em petróleo (também no passado e até passado recente), país com as costas voltadas aos hispano-americanos nossos vizinhos sempre democraticamente conturbados, país com baixíssimo número de anos na educação de seus filhos (menos de 10% nas universidades enquanto até argentinos vão a 40%, americanos a 80% )o Brasil chega neste momento às vésperas de encenar uma peça em que não há qualquer preparo dos encenadores.

Olhe para fora de sua janela, onde quer que você esteja: é provável que veja alguma árvore; aqui no Rio basta subir os olhos para os morros em volta e mesmo quando há favelas, você verá árvores, muitas árvores.

Se estiver num avião, indo para onde quer que seja neste país, vai voar sobre áreas de mata verde, de florestas, ou de canmpos em que "se plantando, tudo dá", como já disse Pero Vaz Caminha na Bahia em 1500, só olhando a terra em frente às naus de Cabral à caminho das Índias.

Quando você não estiver vendo campos ou florestas no seu voo vai ver rios e mais rios. E planaltos que levam os seus rios em calhas para que cheguem ao mar - imenso - que é nossa fronteira de uns 8 000 quilômetros de extensão com o Oceano Atlântico.

Quando estas imensas massas d'água mudam de nível em cascatas e corredeiras produzem energia depois de construídas usinas hidrelétricas. A melhor forma de gerar eletricidade enquanto houver chuvas para encherem rios.

Além destas riquezas naturais temos em nossas fronteiras quase 200 milhões de seres humanos que têm em comum serem "brasileiros". Os atores e atrizes que querendo ou não vão trabalhar na peça cuja estreia já está marcada: daqui pra frente no século 21, todo.

Estranho nome este que caracteriza um povo não por sua eetnia (raça) ou por sua fidelidade religiosa, nem por seus hábitos alimentares, comportamentos culturais, seja o que for. Brasileiros, da mesma forma que o termo impressionistas usado para caracterizar alguns pintores que aparentemente registravam mais impressões em seus quadros do que a vida real em todos os seus detalhes, brasileiros foi o nome dado pelos portugueses às pessoas originadas ou residentes nas terras onde havia um tronco cujo processamento numa forma rústica de indústria produzia uma tinta vermelha capaz de tingir tecidos.

A terra descoberta por Cabral foi batizada de Santa Cruz, logo, quem lá nascesse ou permanecesse deveria se chamar Santenses, ou algo semelhante.

Mas, logo de saída, e este tema vai ser abordado adiante, tivemos a imensa vantagem de nos chamarmos brasileiros.


Os impressonistas foram chamados desta forma para diminuir a sua qualificação. Os brasileiros foram chamados assim - sem nenhuma intenção de valorizar a sua localização - relacionando sua existência a um imperativo econômico.

Vamos de novo mergulhar num cenário imaginário - como a da peça de teatro das primeiras linhas - e pensar nas pessoas que chegavam a estas costas em naus e caravelas no século 16.

O nome oficial, adotado na carta do Pero Vaz Caminha ao rei D. Manoel dando conta do achamento destas terras era Vera Cruz, ou Santa Cruz. À bordo das naus de Cabral havia um marco de pedra, que foi cravado na praia baiana sem que nele houvesse registrado a palavra Brasil.

Na verdade a decisão de promover o "achamento" destas terras, como sub-produto de uma viagem de negócios às Índias, ocorreu somente depois de ter sido negociado e assinado o Tratado das Tordesilhas, como Vaticano, revogando a Bula Intercoetera, datada de 1493.

Em 1498 Duarte Pacheco Ferreira, mandado pelo rei especificamente para verificar se realmente havia novas terras asseguradas para a Coroa Portuguesa, chegou às nossas terras entre o Maranhão e Pará e foi o primeiro a falar em brasil.

Leia este trecho de seu relatório ao rei português:

"Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados."

Neste pequeno trecho Duarte Pacheco Ferreira propõe alguns temas muito importantes para este post:

1. Fica muito claro que as terras portuguesas na América foram de fato "descobertas" ou "achadas" por ele. E não por nosso festejado Cabral.
2. Foi muito além do Cabral - que achava ter descoberto uma ilha - e diante da extensão da costa percebeu que a área era muito maior.
3. No seu relatório, não transcrito acima, ele referiu-se a uma pororoca, a primeira registrada, no que viria a ser o rio Mearim. Ele fez isto, dentre outros motivos, por que era um cosmógrafo, um cientista que calculou a longitude com um erro de menos de 4º.
4. Como arguto observador, numa missão secreta do rei de Portugal, deu atenção ao "fino brasil" destacado entre outras riquezas identificadas por ele no litoral.

Se você buscar informações sobre o pau brasil vai se surpreender ao verificar que a árvore é originária da Mata Atlântica.E que, com os primeiros séculos de ocupação europeia, pois além dos portugueses, franceses e outros navegantes trataram de derrubar quanto pau brasil havia, praticamente eliminando-o de nossas matas.

Como podia o Duarte Coelho chamar de brasil - e saber de seu valor econômico - se até 1498 a Mata Atlântica e sua árvore ainda sequer eram conhecidas na Europa?

Duarte Coelho já havia estado na Ásia, já havia lutado nas colônias portuguesas na região (voltadas a encontrar as especiarias a serem levadas para a Europa para obtenção de grandes lucros) e devia ter visto a árvore já lá denominada de Brasil.

Era um pau tão denso e pesado que não flutuava, impossibilitando derrubá-lo às margens de rios para transportá-lo em jangadas. Tinha de ser acomodado como carga pesada nos porões das naus. E isto valia a pena por que os tecidos tingidos com a sua seiva eram mais valiosos do que os tingidos com terras.

Os nossos antepassados portuguêses depois dedicaram-se a ganhar dinheiro com a cana, o açucar e o álcool, e daí evoluiram para os minerais vindos das minas gerais, tivemos a sorte grande do café e durante os nossos poucos séculos sempre a nossa brava gente - os brasileiros - corremos atrás do que desse dinheiro de forma regular.

Igualzinho aos demais povos da terra, que dependendo de sua localização e de sua história, querem preservar para seu próprio gozo todas as riquezas que possam controlar.

Nós os brasileiros em especial devemos não só o nosso nome, mas o nome de nosso país, e a nossa bandeira verde e amarela à nossa obsessão pelas riquezas, coisa que não vinha dando tão certo ao longo dos anos, mas que derepente encaixou.

Do pau brasil evoluimos para a energia elétrica capaz de mover fábricas de qualquer coisa que queiramos fabricar.

Apesar dos medos e o histórico de Hiroshima e Nagazaki, dos vazamentos de Three Mile Island ( nos EUA) e de Chernobil (na antiga URSS) a geração de energia a partir do urânio é o que está permitindo a França e boa parte da Europa superarem a inexistência de carvão, petróleo e represas para gerar a energia necessária para serem países organizados. E ricos.

Aqui no Brasil temos um conglomerado de usinas nuclares em Angra dos Reis gerando uma energia elétrica que tem péssima fama.

Tipo, veja se isto é lugar para construir uma usina nuclear...

Se este troço explodir acaba a região. Além disto é uma usina vagalume, acende e apaga, não se pode confiar. O pessoal que a administra esconde as falhas, não parece muito competente e pode ter a certeza de que não vão avisar ninguém a tempo se der confusão...

Tudo de ruim. Tudo de negativo sendo repetido ano após ano, há mais de 30 anos.

Resultado: o Brasil que tem a quarta maior reserva de urânio do mundo não se dedicou a fazer qualquer nova usina nuclear.E limitou a geração de energia elétrica vinda de seu urânio a pouco mais de 3% do total.

Além de Three Mile Island - nos Estados Unidos - e de Chernobil - na antiga União Soviética - não houve problemas com usinas nucleares em lugar algum do mundo.

Dados do Greenpeace mostram como o resto do mundo está usando e gerando riquezas a partir de usinas nucleares:

Em 2006, a França foi o país que mais produziu energia nuclear: 82,2% do total de energia gerada pelo país foi proveniente de fonte nuclear. Lituânia (78,7%), Bélgica (57,3%), Ucrânia (50,57%), Suécia (49,9%), Bulgária (47,7%) e Eslováquia (42,7%), vêm na sequência como os países que mais utilizam tecnologia nuclear como fonte energética. A Coréia do Sul (40,7%) e o Japão (31,2%) são os países qua mais usam esta tecnologia no oriente. Já no Brasil a energia nuclear produz apenas 3,31% da geração total de energia. Até maio de 2008 n o mundo , 439 usinas estavam em operação, representando 16 % da geração de energia total mundial.

Cada kilowatt não gerado e não consumido, ou cada kilowatt gerado a um custo maior do que o pudesse ser menos custoso geraria com certeza absoluta mais competitividade aos produtos fabricados com este eletricidade. Mesmo que o preço dos produtos seguisse uma tabela internacional. Quem ganharia mais seriam então as fábricas e este dinheiro iria mesmo que houvesse uma conspiração muito bem urdida para detonar o Brasil, iria beneficiar o Brasil e os brasileiros.

A falta de jazidas de petróleo no Brasil - com a história da Petrobras dizendo que o petróleo é nosso e os relatórios Link dizendo que no nosso território continental não havia petróleo que nos desse autosuficiência - chegou no fim do século 20 ao momento mágico da descoberta do óleo no pré-sal.

Para quem como o redator deste Almanaque não conseguia entender o porque deste petróleo surgir num buraco tão mais embaixo do que todos os demais petróleos, aqui vai a explicação simples e forçosamente incompleta:

Quando houve a separação do continente de Gondwana, onde a América e e África eram parte de uma só massa de terra, formou-se uma rachadura, que sem exageros podemos chamar "a rachadura rainha".

Começou a separação há 200 milhões de anos fazendo o mar penetrar na rachadura inicial na maior queda d'água que possa ser imaginada. E neste deslocamento de águas cheias de vida iam junto peixes, crustáceos e o que mais pudesse estar vivo com átomos de carbono prontos a se transformar em petróleo ao longo dos milhões de anos à frente.

Sobre a massa de animais mortos o oceano na rachadura passou por momentos de redução, acumulando na rachadura água que evaporava e deixava os sais dissolvidos ao fundo.

Este é o sal mais profundo sob o solo do mar nas proximidades das costas da América do Sul e da África. E abaixo desta camada estão - tranaformados por milhões de anos de aquecimento e compressão em petróleo que poderá nos levar aos primeiros lugares dentre os produtores dentro de uns 20 a 30 anos.

Mas, em relação a este grande momento, há a considerar uma novidade ameaçadora: o homem pela queima de combustível fóssil (petróleo e carvão) gera CO²o qual por sua vez cria o "efeito estufa" que em última instância poderia acabar com a vida na Terra...

Que chato... Logo agora que estamos chegando ao petróleo abundante, o sonho de todos os "brasileiros" há tanto tempo!

Mas este é apenas um dos grandes problemas a serem enfrentados.

Como explicar o retardamento em mais de 40 anos na decisão de construir e por consequência iniciar as obras de uma hidrelétrica no rio Xingu?

Em janeiro de 2010 um sinal verde foi dado, desde que sejam atendidas 70 ou 80 exigências que vão custar mais um bilhão de dólares para serem cumpridas.

Imagine só, pelo custo inferior a um décimo da compra de um caças a jato - para defender o nosso pré-sal do ataque de algum país oportunista - a usina de Belo Monte ficou no papel desde 1970.

Se tivesse sido construída em 10 anos e tivesse gerado seus kilowatts nos últimos 30 anos o Brasil teria gerado o equivalente a uma Suécia por ano a mais de energia.

De qualquer forma a energia não gerada pela segunda maior usina do Brasil durante 20 anos seria suficiente para produzir muito mais bens e gerar muito mais riquezas do que as que levaram o país para a 8ª posição no ranking das economias mundiais.

Pegunte a você agora: será que podemos viver como se no mundo os países fossem amigos uns dos outros?

Pense na retrospectiva das riquezas geradas pelo pau brasil, pela migração das seringueiras promovidas pela Grã Bretanha para a Malásia, pela absoluta aderência da opinião pública brasileira a nao construir usinas nucleares, aos cuidados mais do que detalhados para autorizar o início dos trabalhos na Belo Monte, e na aparente confusão governamental.

É a partir de conceitos como estes que se desenvolvem as teorias conspiratórias.

A primeira pergunta dos investigadores para chegar aos culpados por um crime é relativa ao "a quem interessa este crime tenha sido cometido?"

Mais de 80% dos assassinatos ocorridos no Brasil não resultam nem em processos, nem em acusações, nem em condenações de seus culpados. Como não se chega a definir a quem poderia interessar o crime, não se pode chegar aos culpados.

No caso do Brasil poderia ocorrer algo semelhante. E que por uma bela decisão pessoal deixou de ocorrer em grande parte devido a uma análise feita por Jim O'Neill , economista chefe do Goldman Sachs, pouco tempo depois do atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos.

O 'Neill, afetado pessoalmente pelo atentado que poderia ter terminado com a sua vida - um dia antes ele esteve no prédio atacado onde ficava a sede de NY do Goldman Sachs - perecebeu que naquele momento começava a se formar uma nova ordem mundial. Uma mudança previsível no eixo do poder econômico para quatro super-países : Brasil, Rússia, Índia e China cujo acrônimo feito com as suas iniciais era BRIC - tijolo - algo muito adequado para a reconstruir um novo mundo econômico.

Quando nos comparamos com países - na verdade, civilizações - milenares como China , ìndia e até a Rússia poderia parecer que o Brasil teria entrado nesta lista apenas por um capricho de O'Neill. Mas, economistas chefes de grandes financeiras não se deixam levar por este tipo de tentação.

O Brasil além da série de vantagens expostas em outra parte deste texto é uma democracia estável, confiável nas relações internacionais pelos dirigentes eleitos de governos que sejam até opositores do anterior. É um país sem ambições territoriais sobre os países vizinhos e que tem em sua população de 200 milhões de habitantes a quantidade boa de consumidores para formar um respeitável mercado interno.

Ter entrado neste clube do BRIC foi muito mais importante do que qualquer outro reconhecimento internacional, como por exemplo, ser eleito membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Tudo de bom tem o seu preço e o preço maior é a inevitável percepção de que o Brasil não pode ser deixado sem cuidadoso monitoramento de todos os países do mundo. Em especial daqueles sobre os quais o sucesso do Brasil possa provocar ou acelerar perdas para os seus cidadãos.

Um empresário brasileiro com atividade internacional quando isto ainda era raro - o Horácio Klabin que dentre outras atividades tinha a franquia do Diners Club na Alemanha, Bélgica e Portugal nos anos 70 - achava muito engraçada a mania de políticos, jornalistas, intelectuais dizerem que tal país era grande amigo de outro país.

Ele sabia que o interesse econômico dos dirigentes dos países ditava a forma como as amizades internacionais se manifestava. E este fato nunca foi diferente antes, nem muito menos agora.

O que certamente vai mudar e está mudando é necessidade de que os profissionais incumbidos de conduzir os relacionamenrtos internacionais do Brasil (diplomatas e negociantes) com o resto do mundo voltem a se chamar com absoluta adequação de brasileiros.

Gente reunida não por terem nascido aqui, por serem descendentes de determinados povos ou etnias, por professarem alguma religião mas por buscarem vantagens com a venda do pau brasil da ocasião. Defendendo-o contra as imitações e as armadilhas diretas ou indiretas à sua comercialização.

Dentre as quais as barreiras para dotar o Brasil da infraestrutura de energia, de transporte, de produção, de formação de profissionais capazes de não esmorecer nos seus esforços de vender pau brasil , como se a nossa vida dependesse disto.

E não é que depende!










sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

E por falar em palavras... e esta história da Hidrelétrica de Monte Alto. Já pensou?

Imagine que você está nos bastidores de um teatro onde está sendo montada uma peça espetacular. Um super espetáculo.

Imagine que você, que não entende muito de teatro, percebe que a confusão é total.

Gente aos berros reclamando que os demais não estão trabalhando, cenários tortos e mal montados, atores e atrizes correndo de um lado para o outro em busca do diretor, as luzes despencando do teto.

E você sabendo que a estreia será nas próximas semanas.

Agora troque o teatro pelo Brasil, troque a peça pelo projeto dos próximos 20 ou 30 anos. Mas, para seu terror, conserve a mesma bagunça, a mesma confusão nos bastidores...

Nunca na história deste planeta tanta coisa está acontecendo relacionando as diversas partes do mundo, os diversos povos e as diversas economias acomodando-se sob novos formatos.

Nós brasileiros fazemos parte do BRIC, com a Russia, China e Índia. O BRIC é a grande novidade no cenário do século 21. Países hoje mais importantes que não eram tão destacados antes surgiram como o novo "tijolo mágico" no novo mundo.

Os demais países do BRIC , além do Brasil, têm populações imensas, histórias milenares, disposições bélicas evidentes (pois todos têm bombas atômicas e ninguém fabrica bombas nucleares para festejos juninos) e até por esta visão estratégica quanto a seu poder todos têm gente pensante em busca (1) de sucesso pessoal dos dirigentes E (2) como líderes comprometidos com o sucesso de seus países.

No Brasil (cuja presença neste grupo seria até de se estranhar) pertencer a um clube tão poderoso sem ter feito qualquer esforço maior para merecer este status nos obrigaria a ter as nossas melhores cabeças, os nossos melhores institutos pensando nossos próximos passos.

A primeira atitude pública chamando a atenção para o Brasil como parte dos BRICs foi tomada nos dias 22 e 23 de fevereiro, no Rio de Janeiro por iniciativa da Prefeiture que convidou grandes especialistas para apresentar o tema no evendo "Uma Agenda para os BRIC".

O Ministério das Relações Exteriores tem sido o órgão encarregado de posicionar o país no mundo. De repente, não tão de repente assim , a visão estratégica do mundo do Brasil parece ter sido atribuída a um assessor presidencial não diplomata, cuja presença a princípio pareceu mais uma curiosidade do que algo com consequências.

Ao surgirem boatos da formação de um Itamaraty do B, sob a forma de um conselho composto de conselheiros de origens caras ao governo, tudo leva a crer que está sendo cuidada de uma substituição dos diplomatas por outras pessoas dedicados à política externa.

Nada disto teria maiores consequências se a montagem deste cenário não tivesse relação com o que se espera sejam as decisões estratégicas do Brasil pelos próximos anos do século 21. Tanto do Brasil como parte do BRIC quanto do Brasil como parte do mundo econômico de maneira geral.

No que o Brasil é imbatível sem qualquer viés ufanista foi exposto por um conferencista no texto abaixo - um discurso - pronunciado em 2005 a que juntei informações mais recentes:

O Brasil, com os seus 8.547.403,5 quilômetros quadrados de território continental é o quinto maior compartimento político da Terra, suplantado apenas pela Rússia, Canadá, China e Estados Unidos da América.

Essa superfície corresponde a 5,9% do total de terras emersas e a 47,9% de toda a América do Sul, percentual esse que enquadra o Brasil entre os países com tamanho conveniente para sobreviver no mundo atual, segundo critério enunciado em 1939, pelo geopolítico norte-americano Derwent Stainthorpe Whittlesey:

“Difícil acreditar que Estados com pequena dimensão, cujos ecúmenos já se expandiram até os últimos limites, sejam bem sucedidos, num mundo em que o tamanho conveniente de um Estado é, no mínimo, metade de um continente”.

Se considerada, também, a área marítima sob jurisdição econômica exclusiva, denominada “Amazônia Azul”, o espaço brasileiro seria bonificado com mais 4,3 milhões de quilômetros quadrados, em números redondos.

Voltando ao território continental, pode-se afirmar, sem qualquer laivo de ufanismo, que dentre todas as entidades políticas, é o nosso Brasil a única capaz de passar ao largo das cinco grandes crises em potencial que ameaçam a humanidade, pelo simples fato de se aproximar da situação autárquica, no que tange aos recursos naturais disponíveis nos seus domínios.

O exame do território continental brasileiro revela, “a priori”, que dispõe ele de um pouco mais de 5 milhões de quilômetros quadrados de terras potencialmente utilizáveis para as atividades agropecuárias, número esse excepcional, quando cotejado com os de outras unidades ou blocos de superfícies avantajadas.

Desse total só estão sendo aproveitados hoje cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados.

Além da vantagem quantitativa em áreas passíveis de aproveitamento para a agropecuária, a posição e a forma do continente brasileiro, dois fatores geopolíticos de suma importância, asseguram certas qualificações a essas terras.

O espaço brasileiro está nas zonas de maior luminosidade e calor do planeta e, simultaneamente, situa-se fora das áreas submetidas a rigores climáticos e fenômenos geológicos ou meteorológicos adversos, inibidores da utilização constante do solo.

A posição geográfica e os climas que a ela correspondem, por favorecerem a fotossíntese, sem qualquer embaraço inibidor, permitem a colheita de duas e, até mesmo, três safras anuais de culturas de ciclo curto, além de dispensarem, no caso da criação de animais, o emprego de instalações para abrigá-los durante parte do ano.

Conseqüentemente, a superioridade do Brasil em terras potencialmente agricultáveis deve ser multiplicada, no mínimo, por dois, quando se desejar comparar o potencial doméstico com o dos demais Estados-Gigantes.

Outro privilégio concedido pela posição relaciona-se com o oceano que banha o nosso litoral. Como a linha de costa situa-se a oeste da massa líquida, o “Efeito Coriolis” faz com que sejam quentes as correntes circulantes, por derivarem ambas da corrente sul-equatorial.

Por esse motivo, são sempre elevadas as taxas de evaporação do oceano adjacente, razão pela qual não há desertos no território brasileiro.

A combinação das taxas de evaporação do Atlântico Sul, na altura do nosso litoral, com os ventos dominantes nas latitudes correspondentes, faz com que a precipitação média diária no Brasil seja a mais elevada da Terra, por atingir a ordem de 43 trilhões de litros (precipitação média anual de 184 centímetros). Nos Estados Unidos da América, por exemplo, a atmosfera só precipita 16 trilhões de litros por dia.

Os 500 mil quilômetros quadrados da caatinga, vegetação compatível com o clima semi-árido instalado em parte da Região Nordeste, estão submetidos a fenômeno peculiar, decorrentes do alinhamento de montanhas, que formam barreiras geomorfológicas à penetração da umidade, e à orientação dos ventos regionais, que empurram as nuvens de encontro a essas barreiras, provocando chuvas a barlavento e secura a sotavento.

A forma do território com acentuado alongamento no sentido dos meridianos, concede ao país a grande dádiva da diferenciação climática, fator primordial à diversidade de culturas.

Terras agricultáveis em quantidade, abundância de luz e calor, elevado índice pluviométrico e notável diferenciação climática, eis aí a receita ideal para o sucesso das atividades do campo e para a exclusão do Brasil da lista dos países vulneráveis à crise de alimentos que ameaça grande parte da humanidade.

Ainda com relação ao espaço físico brasileiro, deve ser ressaltado o fato relevante de boa parte do território continental, praticamente a metade dele, ainda conservar a vegetação primária, isto é, aquela existente em data anterior à chegada dos europeus.

Só na Amazônia brasileira (4 milhões de quilômetros quadrados), a formação florestal nativa ainda recobre 3 milhões de quilômetros quadrados, de permeio com 500 mil quilômetros quadrados de outras tipologias vegetais virgens. A despeito de informações cuja veracidade não pode ser confirmada pela realidade e por pesquisas independente a verdadeira Amazônia brasileira é por incrível que pareça o bioma mais bem conservado do planeta!

Esse detalhe feliz coloca nas mãos dos brasileiros o paraíso da biodiversidade, isto é, o maior banco genético da Terra!

Com relação à nossa Amazônia, a região encerra inestimável patrimônio florestal, cujo inventário, aponta para um volume de madeiras igual a 40 bilhões de metros cúbicos, considerando apenas as árvores adultas. Dentro desse volume encontram-se 40% do total de madeiras de lei (hardwoods) existentes no mundo, quantidade essa avaliada, estaticamente, em 1 trilhão de dólares. Note-se que foi usada a expressão “estaticamente”, porque se trata de riqueza renovável, desde que manejada inteligentemente.

O Brasil, todavia, embora amazônico por determinismo geográfico, não se resume à Amazônia!

Há mais de dois milhões de quilômetros quadrados de vegetação primária nas demais unidades paisagísticas do país, quais sejam o domínio dos cerrados, a zona dos cocais, o domínio da caatinga, o domínio da mata atlântica, o domínio do pantanal e o domínio das coxilhas.

No geral, essas unidades reforçam as dádivas da biodiversidade, o potencial madeireiro, além de enriquecer os patrimônios florístico e faunístico do Brasil!

Não há crise de matérias primas, sejam do reino vegetal, sejam do reino animal, que nos possa alcançar!

A possibilidade mais séria de crise para a humanidade, como é voz corrente, é a de água potável.

O suprimento superficial de água doce, em estado líquido, existente no Brasil (2,29 x 1015 m3) corresponde a 21% das disponibilidades mundiais. Só a Amazônia brasileira mantém em estocagem 1,63 x 1015 m3 de água potável, ou sejam, 15% do que existe na Terra.

Então, os brasileiros não precisam temer que lhes falte água desde que aprendam a usar esta dádiva com sabedoria.

Quanto às matérias primas de origem mineral, fácil demonstrar a posição cômoda do Brasil, inclusive porque a Amazônia brasileira, ao invés da África do Sul, é o verdadeiro “Oriente Médio dos Metais”.

As áreas cratônicas do pais (cratons: massas pré-paleozóicas, que não sofreram ulteriores dobramentos orogenéticos) somam 5,4 milhões de quilômetros quadrados, enquanto as áreas sedimentares emersas equivalem a 3,1 milhões, tudo em números redondos.

Os Escudos e demais áreas cristalinas, embora com boa parte do subsolo opaco, isto é, não submetido a qualquer tipo de pesquisa, já revelaram a presença das 26 substâncias metálicas de uso mais comum, sendo que em muitos casos com reservas de grandes proporções.

Assim dizendo, está tudo resumido!

As quatro bacias sedimentares emersas, à semelhança das áreas cristalinas, são bem férteis, podendo-se dizer o mesmo da plataforma continental.

Uma única restrição incide sobre elas, qual seja a pequena disponibilidade de carvão mineral, uma vez que só na parte meridional da Bacia do Paraná aparecem alguns depósitos, não muito significativos dessa substância energética.

Os climas prevalecentes nos territórios que viriam a compor o Brasil, no decorrer do Carbonífero, explicam essa falha. O futuro território brasileiro, na época, orbitava em torno do Pólo Sul, apresentando clima seco e vegetação rasteira.

Quanto às demais substâncias que se aglomeram nas rochas sedimentares, não há razão para queixas, mormente quando se tem conhecimento da densidade de pesquisa aplicada ao subsolo, que é insignificante.

Exemplo bem ilustrativo: até junho de 1984, desde o início da pesquisa de petróleo no Brasil, só se havia perfurado 8.867 poços de exploração e explotação no subsolo brasileiro. No decorrer do mesmo ano, o subsolo dos Estados Unidos da América foi alvo de 16 mil poços exploratórios!

Nos últimos anos, todavia, a PETROBRÁS obteve sucesso na exploração da plataforma continental e, mesmo, em terra, a ponto tal que a produção está bem próxima da situação de auto-suficiência e as reservas medidas de petróleo e gás garantem a continuidade do suprimento por mais uns 15 ou 20 anos.

A cresente possibilidade da área do pré-sal lançar o Brasil no grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo já teve o seu valor determinado.

Além da área do pré-sal quase nada foi feito para pesquisar o petróleo nas áreas em torno da mega-fratura que vai da foz do Amazonas até a confluência deste com o Trombetas.

A mega-fratura em pauta resultou do processo de separação dos atuais continentes, iniciado há uns 160 milhões de anos (final do Jurássico) e concluído há 85 milhões de anos atrás (final do Cretáceo).

Esses tipos de fratura, em todo o mundo, são os locais onde se acumulam enormes volumes de hidrocarbonetos.

O Brasil, pois, poderá observar de longe a crise de matérias primas da natureza mineral, por ser auto-suficiente no setor!

Resta, ainda, examinar a capacidade energética nacional, a fim de verificar se o país apresenta vulnerabilidades nesse setor vital.

Um dos pontos cruciais do setor energético é a possibilidade de esgotamento prático das reservas de hidrocarbonetos nas próximas décadas.

O Brasil já pode contar com reservas medidas para os próximos dez ou quinze anos, embora tenha boas possibilidades de dilatar por décadas este prazo com o sucesso na exploração das reservas de óleo do pré-sal.

O Brasil tem todas as condições para produzir combustíveis de origem vegetal, aproveitando a biomassa. Esses combustíveis são de alto custo de mão de obra, por exigir um número muito grande de empregados, o que é bom para o país, mas demandam pouco capital, ao contrário da produção dos hidrocarbonetos, que exige o emprego de muito dinheiro para a pesquisa e lavra, com pequeno custo relativo à mão de obra.

Além desse aproveitamento indireto da energia solar, há também duas excelentes opções para fazê-lo diretamente, aproveitando a posição do país e suas condições climáticas: uso de placas armazenadores de calor e o emprego de células fotovoltaicas que geram eletricidade.

Só para dar uma idéia da eficácia do aproveitamento direto da energia solar, deve ser citado o resultado de testes conduzidos nos Estados Unidos da América, sobre o efeito prático do emprego de placas coletoras para aquecimento de água para uso residencial e pré-aquecimento do mesmo líquido para uso nas indústrias. Ficou demonstrado que o uso isolado dos coletores redundou numa redução de 15% no consumo anual de derivados do petróleo.

O emprego conjugado da energia solar será a instância definitiva do homem, uma vez que o SOL direciona para a Terra, diariamente, uma quantidade de energia equivalente a 100 mil vezes a capacidade de todos os geradores de eletricidade instalados no mundo.

Acontece, ainda, que conta o Brasil com um potencial hídrico inventariado igual a 213 mil megawatts de potência instalada, do qual somente uns 30% estão sendo aproveitados.

Portanto, existe uma perspectiva concreta de se instalar mais 150 mil megawatts por conta de novas hidrelétricas, sendo importante frizar que a Amazônia entrará com uma parcela de 110 mil megawatts em que a nova usina de Monte Alto será a mais importante.

Os Estados Unidos da América já aproveitaram todo o seu potencial hídrico, que totaliza apenas 101 mil megawatts, menos da metade do potencial do Brasil.

Além disto a capacidade de geração de energia no Brasil não se esgota com o que já foi mencionado, eis que o urânio e o tório, combustíveis da fissão nuclear, são abundantes no país. Embora do primeiro só se tenha medido, até agora, uma reserva equivalente a 2% das reservas mundiais, no caso do tório as medições, ainda incompletas, indicam que as reservas domésticas já chegam a 30% de tudo o que existe no planeta.

Devido a isto tudo - a estes fatos - o Brasil tem reais condições para oferecer energia aos seus habitantes, seja para o conforto pessoal seja para o progresso continuado.

Não há como deixar de formular uma pergunta lógica: por que todas essas benesses que o território oferece ainda não foram aproveitadas para tornar os brasileiros prósperos e felizes?

A resposta só poderá ser uma: má gestão dos negócios de Estado.
Entenda-se por má gestão ignorância, incompetência, corrupção e outras coisas do mesmo quilate.

O Brasil, devido às mesmas circunstências que tanto favorecerem o seu território teve a sua evolução política e econômica feita muitas das vezes por acaso. Sem planejamento estratégico devido às nossas limitações.

Enquanto no Hemisfério Norte, motivados pela sábia advertência de Thomas Paine, resumida na frase “The blood of the slain, The weeping voice of the nature cries: ´Tis time to part” os habitantes das Treze Colônias engajaram-se numa guerra cruenta, bateram e expulsaram os colonizadores, cortando todos os vínculos com a Coroa inglesa a ponto de não estabelecerem sequer representação diplomática na antiga metrópole, no Brasil a Independência política foi de fato um negócio de pai para filho.

A Carta de Lei de D. João VI, que ratificou o Tratado de 1825, pelo qual Portugal reconheceu a Independência do Brasil, demonstra a maneira “gentil” que presidiu a nossa separação.

Nela o Rei de Portugal assume o título de Imperador do Brasil, compartilhando-o com o filho D. Pedro de Alcântara, a quem confirmou como seu herdeiro e sucessor.

Em simultaneidade, ocorreu a faceta dramática do reconhecimento da nossa Independência: D. Pedro aceitou a imposição portuguesa de transferir para o Brasil uma dívida de 2 milhões de libras esterlinas, que Portugal contraíra com os banqueiros ingleses.

Tal ato teve como conseqüência a transferência do comando dos negócios do Brasil para a Inglaterra e, pior do que isso, a manutenção de todas as práticas econômicas coloniais: exportação de matérias primas brutas em troca de produtos manufaturados.

Essa prática perdurou até os dias atuais, exceto durante a pausa revigorante que nos proporcionou Getúlio Vargas, o primeiro Presidente nacionalista.

O que se passou daí por diante até a ascensão do atual Presidente é história contemporânea, que não vem ao caso relembrar.

Todavia, não se pode deixar de ressaltar o grau de dependência a que fizeram chegar o Brasil, principalmente devido a interferência dos que caíram no conto da “globalização”.

Segundo o famoso publicista norte-americano, John Kenneth Galbraith, “a globalização não é um conceito sério e nós, norte-americanos, a inventamos para dissimular a nossa política de intervenção econômica nos outros Estados e para tornar respeitáveis os movimentos especulativos de capital, que sempre causam graves problemas”.

De um modo geral, no Brasil, todas as atividades econômicas de porte passaram às mãos de grupos de fora, cujos acionistas são completamente dissociados da comunhão nacional. E estrategicamente trabalham para manter as suas vantagens no Brasil e no mundo.

As taxas elevadíssimas de juros, fixadas pelo chamado COPOM, têm como justificativa maior frear a inflação, mas são mantidas lá na estratosfera para atrair investimentos diretos que equilibrem as contas externas do país, além, é claro, de favorecer aos bancos aqui estabelecidos.

Até os bancos estrangeiros receberam inédita autorização para operar no varejo bancário, auferindo lucros e remetendo os mesmos para os países de origem às custas da poupança dos pobres cidadãos brasileiros!

E para rematar a manobra lesiva aos interesses estratégicos do Brasil os atuais dirigentes, ditos esquerdistas, ainda autorizaram, com a conivência da maioria dos congressistas, o ingresso do capital estrangeiro na mídia, com o que será consumada a captura total do compartimento econômico do país, sem que os brasileiros recebam qualquer informação a respeito.

A única reação eficaz, entretanto, será aquela comandada por cidadãos que não sejam destros, nem tampouco sinistros, mas plenamente brasileiros; que não sejam a favor do Estado Mínimo, nem tampouco do Estado-Máximo, mas tão somente do Estado-Necessário.
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O que faz a propaganda sagrada é o uso da palavra. Nós só fazemos o que fazemos movidos por palavras mágicas que comandam nossas ações.


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele" (João 1:1-3).


Pode parecer estranho iniciar um texto sobre propaganda com uma citação do evangelho de João, do Novo Testamento, escrito por João na cidade de Éfeso (hoje na Turquia) por volta do ano 100 da nossa era.

E ainda por cima esta passagem que sempre teve interpretações controversas para os estudiosos da Bíblia. Mas, até por isto, a considero como a mais poderosa e mais antiga declaração da importância da propaganda.

Fico fascinado pela determinação do redator João ao dizer em nome de Deus que o verbo, ou a palavra, ou o logos (em grego) não só estava com Deus como era o próprio Deus, acima de tudo o que os homens poderiam ser ou fazer. Nem o mais megalomaníaco publicitário de hoje teria coragem de dizer algo assim...

Para todos nós que ganhamos a nossa vida e construímos a nossa carreira usando palavras há citações neste texto de João que comprovam para mim a força destes pedaços de ideias na evolução de nossa espécie.

O homo sapiens, a única forma de vida existente no universo capaz de escrever e ler livros, teve o início de sua evolução zoológica 100 mil anos antes da redação deste texto: isto ocorreu quando em algum lugar do que hoje é território da Tanzânia um de nossos antepassados usou o verbo para reunir um grupo de animais de sua espécie e os convenceu a iniciar uma mudança de local rumo ao norte.

Ele não sabia o que poderia encontrar, não podia assegurar qualquer certeza a seus companheiros, não sabia o que seria preciso para movimentar-se e conseguir alimentos. Mas, tal como qualquer pessoa, depois chamada de publicitários, ao longo de milhares anos, conseguiu convencer seus pares a irem com ele.

Até chegar ao que hoje é o Egito no norte da África e dali seguir para a direita – a Ásia, e da Ásia para a esquerda na Europa passaram-se pelo menos 60 mil anos desde o primeiro deslocamento, umas 3 000 gerações que se sucederam aprimorando a capacidade de sobreviver diante das variadas condições do meio em que se deslocavam.

Estes homo sapiens para sobreviver inventaram armas para defenderem-se e caçarem animais; também tiveram de aprimorar a forma de comunicar-se entre si, pois quanto melhor pudessem comunicar-se mais poderosos seriam como um grupo. O verbo aprimorado tornava o grupo unido muito mais eficiente do que qualquer um indivíduo isolado.

Este bando para garantir a sua alimentação criou artefatos de madeira e barro para conservar e consumir alimentos, o bando cobriu-se de peles e tecidos para proteger os seus corpos, justificando o sapiens adicionado em seu nome.

A longa marcha empreendida sem planejamento pelas primeiras das 3 000 gerações teve como consequência mais importante para eles e os seus descendentes o estabelecimento de regras para possibilitar a convivência mais harmoniosa dos grupos. Pois se estas regras expostas em palavras não existissem seria impossível o grupamento humano continuar a existir como tal.

Numa comparação com um grupo de macacos, primatas como nós, a convivência do grupo de seus membros se torna possível e repetida por milênios a fio, sem alterações comportamentais de qualquer espécie, pois não há diferenciação de tarefas dos diversos membros. Todos macacos num grupo conforme a sua idade, seu sexo, seu vigor físico, fazem as mesmas coisas sem a busca da invenção para tornar a vida mais segura ou mais longa.

Vilfredo Pareto, (1848-1923), sempre lembrado pela Lei de Pareto (dos 80/20) em que definiu que nos negócios 80 % dos lucros provem de 20% dos clientes, também tinha outras leis comportamentais derivadas de seus estudos matemáticos. A que importa aqui é a em que ele classificava a humanidade em dois grupos com características bem marcantes: a dos renteurs e a dos speculateurs em que os primeiros (a maioria das pessoas) vivem como locatários do mundo, não tomam iniciativas mais ousadas, buscam a tranquilidade profissional, emocional, artística. Evitam fazer marolas, evitam aparecer. Para este grupo sempre será mais fácil seguir do que tornarem-se líderes a serem seguidos.

Os speculateurs, ao contrário são os insatisfeitos, os que buscam sempre novas alternativas em suas vidas. O mundo evolui devido aos esforços, aos riscos, aos sucessos e aos insucessos dos speculateurs. Que segundo Pareto são 10% de qualquer comunidade.

O homo sapiens que convenceu o seu grupo na África a sair de onde estavam rumo ao norte foi o primeiro speculateur na História da humanidade.

O negócio da propaganda foi iniciativa de speculateurs.Como foi invenção dos speculateurs primitivos a construção (ou a descoberta) das religiões.

E estas manifestações da busca de relacionamentos com forças superiores à força do grupo isolado foram determinantes no aprendizado das tarefas básicas da propaganda.

Antes da criação da escrita a busca de um vínculo com a divindade – tal como ocorre ainda hoje nas tribos indígenas da Amazônia – o envolvimento e a proteção além do dia-a-dia no grupo são regras repassadas oralmente de geração em geração, cabendo aos escolhidos os ônus e os bônus deste contato íntimo com forças superiores.

A necessidade de compartilhar conhecimentos de forma a que todos os componentes do grupamento humano soubessem o que fazer para manter o bom relacionamento com as forças superiores incentivou a invenção da escrita.

Há 5000 anos os habitantes da Índia escreveram o Bhagavad-Gita, o primeiro dos livros sagrados em que Krishna em 250 versículos instrui como devem agir e comportar-se os homens. Era só seguir o que estava escrito e as dúvidas paralisantes deixavam de existir. Bastava viver conforme as regras escritas.

A existência da crença e a sua difusão entre os grupos foi o primeiro uso prático da propaganda. Sua invenção foi uma necessidade ditada pelos mesmos imperativos da existência da propaganda hoje e para a sua evolução por quantos séculos e gerações que nos sucedam.E sempre em todos os pontos da Terra foi cercada de magia e mistério, por si sós, um grande atrativo para tornar as palavras aceitas pela maioria.

Quando a espécie criou a escrita há 6000 anos as regras da convivência e as crenças religiosas começaram a ser definidas e aplicadas em benefício sempre da sobrevivência mais sadia dos grupos. Estes textos em pedra e em argila são as primeiras formas de propaganda com acesso ampliado por independer de um comunicador presencial.

A palavra como mágica para gerar comportamentos


Ao dominar a palavra por tantos milênios nós os homo sapiens – ou pelo menos alguns de nós – temos a certeza de que as palavras são essenciais para convencer os demais de nossa espécie, mas a força das palavras não vem simplesmente de as usarmos:a força maior vem da maneira como são combinadas e usadas para a partir do cérebro de quem as ouve ou as lê, as pessoas estejam convencidas de estar fazendo o que é certo.

Descartes, no Discurso sobre o Método, nos anos 1600, fez uma observação que você tal como eu, e tal como ele naquela época temos absoluta certeza de estar correta:

Qualquer pessoa,em qualquer grupamento humano, se perguntada o que gostaria de ter a mais para ser mais feliz ou ter uma vida mais completa jamais colocaria em primeiro lugar o “bom senso”.


Dinheiro, posses, posições, poder, amores, amizades você pode selecionar uma infinidade de desejos humanos e em nenhuma destas listas o “bom senso” vai aparecer como anseio pessoal.

E, no entanto o bom senso está na base de todo raciocínio para que alguém tenha condições de usar palavras para convencer outras pessoas a fazerem (ou deixarem de fazer) alguma coisa.

O convencimento pode ser obtido de várias formas:

1.Pela adesão imediata sem hesitação a uma bateria de determinações mais poderosas.
Tal como acontece com as Leis humanas, ou Leis Divinas que não deixam espaço para tergiversações.
2.Pela necessidade de seguirmos o grupo, mesmo que não sejamos levados a isto por alguma determinação mais poderosa. Tal quanto decidimos sair de uma área de risco, pois o risco da permanência lá se torna muito evidente.
3.Por atendermos às necessidades de Ganhar Dinheiro
4.Economizar Dinheiro
5.Economizar Tempo e Trabalho
6.Ajudar a Família
7.Sentir-se Seguro
8.Impressionar os outros
9. Ter prazer
10.Aprimorar-se
11.Pertencer a um Grupo


Mas, em todos estes casos de convencimento a palavra , a palavra que promove a sintonia entre a cabeça de quem por ela é atingido, precisa ser tratada com o mesmo respeito como é retratada no versículo bíblico que inicia este texto.

Na próxima postagem vamos conversar sobre os aspectos hipnóticos da palavra num texto.