quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Continuação - Dados para ajudar você a chegar a conclusões sobre ser Brasileiro

1. Temos um território de mais de 8 milhões de quilõmetros quadrados que pode ser usado para plantar todas os principais produtos agrícolas. Este nosso Brasil imenso, "país essencialmente agrícola" durante boa parte do século passado, país sem petróleo em seu sub-solo muito menos com perspectivas de auto-suficiência em petróleo (também no passado e até passado recente), país com as costas voltadas aos hispano-americanos nossos vizinhos sempre democraticamente conturbados, país com baixíssimo número de anos na educação de seus filhos (menos de 10% nas universidades enquanto até argentinos vão a 40%, americanos a 80% )o Brasil chega neste momento às vésperas de encenar uma peça em que não há qualquer preparo dos encenadores.

Olhe para fora de sua janela, onde quer que você esteja: é provável que veja alguma árvore; aqui no Rio basta subir os olhos para os morros em volta e mesmo quando há favelas, você verá árvores, muitas árvores.

Se estiver num avião, indo para onde quer que seja neste país, vai voar sobre áreas de mata verde, de florestas, ou de canmpos em que "se plantando, tudo dá", como já disse Pero Vaz Caminha na Bahia em 1500, só olhando a terra em frente às naus de Cabral à caminho das Índias.

Quando você não estiver vendo campos ou florestas no seu voo vai ver rios e mais rios. E planaltos que levam os seus rios em calhas para que cheguem ao mar - imenso - que é nossa fronteira de uns 8 000 quilômetros de extensão com o Oceano Atlântico.

Quando estas imensas massas d'água mudam de nível em cascatas e corredeiras produzem energia depois de construídas usinas hidrelétricas. A melhor forma de gerar eletricidade enquanto houver chuvas para encherem rios.

Além destas riquezas naturais temos em nossas fronteiras quase 200 milhões de seres humanos que têm em comum serem "brasileiros". Os atores e atrizes que querendo ou não vão trabalhar na peça cuja estreia já está marcada: daqui pra frente no século 21, todo.

Estranho nome este que caracteriza um povo não por sua eetnia (raça) ou por sua fidelidade religiosa, nem por seus hábitos alimentares, comportamentos culturais, seja o que for. Brasileiros, da mesma forma que o termo impressionistas usado para caracterizar alguns pintores que aparentemente registravam mais impressões em seus quadros do que a vida real em todos os seus detalhes, brasileiros foi o nome dado pelos portugueses às pessoas originadas ou residentes nas terras onde havia um tronco cujo processamento numa forma rústica de indústria produzia uma tinta vermelha capaz de tingir tecidos.

A terra descoberta por Cabral foi batizada de Santa Cruz, logo, quem lá nascesse ou permanecesse deveria se chamar Santenses, ou algo semelhante.

Mas, logo de saída, e este tema vai ser abordado adiante, tivemos a imensa vantagem de nos chamarmos brasileiros.


Os impressonistas foram chamados desta forma para diminuir a sua qualificação. Os brasileiros foram chamados assim - sem nenhuma intenção de valorizar a sua localização - relacionando sua existência a um imperativo econômico.

Vamos de novo mergulhar num cenário imaginário - como a da peça de teatro das primeiras linhas - e pensar nas pessoas que chegavam a estas costas em naus e caravelas no século 16.

O nome oficial, adotado na carta do Pero Vaz Caminha ao rei D. Manoel dando conta do achamento destas terras era Vera Cruz, ou Santa Cruz. À bordo das naus de Cabral havia um marco de pedra, que foi cravado na praia baiana sem que nele houvesse registrado a palavra Brasil.

Na verdade a decisão de promover o "achamento" destas terras, como sub-produto de uma viagem de negócios às Índias, ocorreu somente depois de ter sido negociado e assinado o Tratado das Tordesilhas, como Vaticano, revogando a Bula Intercoetera, datada de 1493.

Em 1498 Duarte Pacheco Ferreira, mandado pelo rei especificamente para verificar se realmente havia novas terras asseguradas para a Coroa Portuguesa, chegou às nossas terras entre o Maranhão e Pará e foi o primeiro a falar em brasil.

Leia este trecho de seu relatório ao rei português:

"Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados."

Neste pequeno trecho Duarte Pacheco Ferreira propõe alguns temas muito importantes para este post:

1. Fica muito claro que as terras portuguesas na América foram de fato "descobertas" ou "achadas" por ele. E não por nosso festejado Cabral.
2. Foi muito além do Cabral - que achava ter descoberto uma ilha - e diante da extensão da costa percebeu que a área era muito maior.
3. No seu relatório, não transcrito acima, ele referiu-se a uma pororoca, a primeira registrada, no que viria a ser o rio Mearim. Ele fez isto, dentre outros motivos, por que era um cosmógrafo, um cientista que calculou a longitude com um erro de menos de 4º.
4. Como arguto observador, numa missão secreta do rei de Portugal, deu atenção ao "fino brasil" destacado entre outras riquezas identificadas por ele no litoral.

Se você buscar informações sobre o pau brasil vai se surpreender ao verificar que a árvore é originária da Mata Atlântica.E que, com os primeiros séculos de ocupação europeia, pois além dos portugueses, franceses e outros navegantes trataram de derrubar quanto pau brasil havia, praticamente eliminando-o de nossas matas.

Como podia o Duarte Coelho chamar de brasil - e saber de seu valor econômico - se até 1498 a Mata Atlântica e sua árvore ainda sequer eram conhecidas na Europa?

Duarte Coelho já havia estado na Ásia, já havia lutado nas colônias portuguesas na região (voltadas a encontrar as especiarias a serem levadas para a Europa para obtenção de grandes lucros) e devia ter visto a árvore já lá denominada de Brasil.

Era um pau tão denso e pesado que não flutuava, impossibilitando derrubá-lo às margens de rios para transportá-lo em jangadas. Tinha de ser acomodado como carga pesada nos porões das naus. E isto valia a pena por que os tecidos tingidos com a sua seiva eram mais valiosos do que os tingidos com terras.

Os nossos antepassados portuguêses depois dedicaram-se a ganhar dinheiro com a cana, o açucar e o álcool, e daí evoluiram para os minerais vindos das minas gerais, tivemos a sorte grande do café e durante os nossos poucos séculos sempre a nossa brava gente - os brasileiros - corremos atrás do que desse dinheiro de forma regular.

Igualzinho aos demais povos da terra, que dependendo de sua localização e de sua história, querem preservar para seu próprio gozo todas as riquezas que possam controlar.

Nós os brasileiros em especial devemos não só o nosso nome, mas o nome de nosso país, e a nossa bandeira verde e amarela à nossa obsessão pelas riquezas, coisa que não vinha dando tão certo ao longo dos anos, mas que derepente encaixou.

Do pau brasil evoluimos para a energia elétrica capaz de mover fábricas de qualquer coisa que queiramos fabricar.

Apesar dos medos e o histórico de Hiroshima e Nagazaki, dos vazamentos de Three Mile Island ( nos EUA) e de Chernobil (na antiga URSS) a geração de energia a partir do urânio é o que está permitindo a França e boa parte da Europa superarem a inexistência de carvão, petróleo e represas para gerar a energia necessária para serem países organizados. E ricos.

Aqui no Brasil temos um conglomerado de usinas nuclares em Angra dos Reis gerando uma energia elétrica que tem péssima fama.

Tipo, veja se isto é lugar para construir uma usina nuclear...

Se este troço explodir acaba a região. Além disto é uma usina vagalume, acende e apaga, não se pode confiar. O pessoal que a administra esconde as falhas, não parece muito competente e pode ter a certeza de que não vão avisar ninguém a tempo se der confusão...

Tudo de ruim. Tudo de negativo sendo repetido ano após ano, há mais de 30 anos.

Resultado: o Brasil que tem a quarta maior reserva de urânio do mundo não se dedicou a fazer qualquer nova usina nuclear.E limitou a geração de energia elétrica vinda de seu urânio a pouco mais de 3% do total.

Além de Three Mile Island - nos Estados Unidos - e de Chernobil - na antiga União Soviética - não houve problemas com usinas nucleares em lugar algum do mundo.

Dados do Greenpeace mostram como o resto do mundo está usando e gerando riquezas a partir de usinas nucleares:

Em 2006, a França foi o país que mais produziu energia nuclear: 82,2% do total de energia gerada pelo país foi proveniente de fonte nuclear. Lituânia (78,7%), Bélgica (57,3%), Ucrânia (50,57%), Suécia (49,9%), Bulgária (47,7%) e Eslováquia (42,7%), vêm na sequência como os países que mais utilizam tecnologia nuclear como fonte energética. A Coréia do Sul (40,7%) e o Japão (31,2%) são os países qua mais usam esta tecnologia no oriente. Já no Brasil a energia nuclear produz apenas 3,31% da geração total de energia. Até maio de 2008 n o mundo , 439 usinas estavam em operação, representando 16 % da geração de energia total mundial.

Cada kilowatt não gerado e não consumido, ou cada kilowatt gerado a um custo maior do que o pudesse ser menos custoso geraria com certeza absoluta mais competitividade aos produtos fabricados com este eletricidade. Mesmo que o preço dos produtos seguisse uma tabela internacional. Quem ganharia mais seriam então as fábricas e este dinheiro iria mesmo que houvesse uma conspiração muito bem urdida para detonar o Brasil, iria beneficiar o Brasil e os brasileiros.

A falta de jazidas de petróleo no Brasil - com a história da Petrobras dizendo que o petróleo é nosso e os relatórios Link dizendo que no nosso território continental não havia petróleo que nos desse autosuficiência - chegou no fim do século 20 ao momento mágico da descoberta do óleo no pré-sal.

Para quem como o redator deste Almanaque não conseguia entender o porque deste petróleo surgir num buraco tão mais embaixo do que todos os demais petróleos, aqui vai a explicação simples e forçosamente incompleta:

Quando houve a separação do continente de Gondwana, onde a América e e África eram parte de uma só massa de terra, formou-se uma rachadura, que sem exageros podemos chamar "a rachadura rainha".

Começou a separação há 200 milhões de anos fazendo o mar penetrar na rachadura inicial na maior queda d'água que possa ser imaginada. E neste deslocamento de águas cheias de vida iam junto peixes, crustáceos e o que mais pudesse estar vivo com átomos de carbono prontos a se transformar em petróleo ao longo dos milhões de anos à frente.

Sobre a massa de animais mortos o oceano na rachadura passou por momentos de redução, acumulando na rachadura água que evaporava e deixava os sais dissolvidos ao fundo.

Este é o sal mais profundo sob o solo do mar nas proximidades das costas da América do Sul e da África. E abaixo desta camada estão - tranaformados por milhões de anos de aquecimento e compressão em petróleo que poderá nos levar aos primeiros lugares dentre os produtores dentro de uns 20 a 30 anos.

Mas, em relação a este grande momento, há a considerar uma novidade ameaçadora: o homem pela queima de combustível fóssil (petróleo e carvão) gera CO²o qual por sua vez cria o "efeito estufa" que em última instância poderia acabar com a vida na Terra...

Que chato... Logo agora que estamos chegando ao petróleo abundante, o sonho de todos os "brasileiros" há tanto tempo!

Mas este é apenas um dos grandes problemas a serem enfrentados.

Como explicar o retardamento em mais de 40 anos na decisão de construir e por consequência iniciar as obras de uma hidrelétrica no rio Xingu?

Em janeiro de 2010 um sinal verde foi dado, desde que sejam atendidas 70 ou 80 exigências que vão custar mais um bilhão de dólares para serem cumpridas.

Imagine só, pelo custo inferior a um décimo da compra de um caças a jato - para defender o nosso pré-sal do ataque de algum país oportunista - a usina de Belo Monte ficou no papel desde 1970.

Se tivesse sido construída em 10 anos e tivesse gerado seus kilowatts nos últimos 30 anos o Brasil teria gerado o equivalente a uma Suécia por ano a mais de energia.

De qualquer forma a energia não gerada pela segunda maior usina do Brasil durante 20 anos seria suficiente para produzir muito mais bens e gerar muito mais riquezas do que as que levaram o país para a 8ª posição no ranking das economias mundiais.

Pegunte a você agora: será que podemos viver como se no mundo os países fossem amigos uns dos outros?

Pense na retrospectiva das riquezas geradas pelo pau brasil, pela migração das seringueiras promovidas pela Grã Bretanha para a Malásia, pela absoluta aderência da opinião pública brasileira a nao construir usinas nucleares, aos cuidados mais do que detalhados para autorizar o início dos trabalhos na Belo Monte, e na aparente confusão governamental.

É a partir de conceitos como estes que se desenvolvem as teorias conspiratórias.

A primeira pergunta dos investigadores para chegar aos culpados por um crime é relativa ao "a quem interessa este crime tenha sido cometido?"

Mais de 80% dos assassinatos ocorridos no Brasil não resultam nem em processos, nem em acusações, nem em condenações de seus culpados. Como não se chega a definir a quem poderia interessar o crime, não se pode chegar aos culpados.

No caso do Brasil poderia ocorrer algo semelhante. E que por uma bela decisão pessoal deixou de ocorrer em grande parte devido a uma análise feita por Jim O'Neill , economista chefe do Goldman Sachs, pouco tempo depois do atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos.

O 'Neill, afetado pessoalmente pelo atentado que poderia ter terminado com a sua vida - um dia antes ele esteve no prédio atacado onde ficava a sede de NY do Goldman Sachs - perecebeu que naquele momento começava a se formar uma nova ordem mundial. Uma mudança previsível no eixo do poder econômico para quatro super-países : Brasil, Rússia, Índia e China cujo acrônimo feito com as suas iniciais era BRIC - tijolo - algo muito adequado para a reconstruir um novo mundo econômico.

Quando nos comparamos com países - na verdade, civilizações - milenares como China , ìndia e até a Rússia poderia parecer que o Brasil teria entrado nesta lista apenas por um capricho de O'Neill. Mas, economistas chefes de grandes financeiras não se deixam levar por este tipo de tentação.

O Brasil além da série de vantagens expostas em outra parte deste texto é uma democracia estável, confiável nas relações internacionais pelos dirigentes eleitos de governos que sejam até opositores do anterior. É um país sem ambições territoriais sobre os países vizinhos e que tem em sua população de 200 milhões de habitantes a quantidade boa de consumidores para formar um respeitável mercado interno.

Ter entrado neste clube do BRIC foi muito mais importante do que qualquer outro reconhecimento internacional, como por exemplo, ser eleito membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Tudo de bom tem o seu preço e o preço maior é a inevitável percepção de que o Brasil não pode ser deixado sem cuidadoso monitoramento de todos os países do mundo. Em especial daqueles sobre os quais o sucesso do Brasil possa provocar ou acelerar perdas para os seus cidadãos.

Um empresário brasileiro com atividade internacional quando isto ainda era raro - o Horácio Klabin que dentre outras atividades tinha a franquia do Diners Club na Alemanha, Bélgica e Portugal nos anos 70 - achava muito engraçada a mania de políticos, jornalistas, intelectuais dizerem que tal país era grande amigo de outro país.

Ele sabia que o interesse econômico dos dirigentes dos países ditava a forma como as amizades internacionais se manifestava. E este fato nunca foi diferente antes, nem muito menos agora.

O que certamente vai mudar e está mudando é necessidade de que os profissionais incumbidos de conduzir os relacionamenrtos internacionais do Brasil (diplomatas e negociantes) com o resto do mundo voltem a se chamar com absoluta adequação de brasileiros.

Gente reunida não por terem nascido aqui, por serem descendentes de determinados povos ou etnias, por professarem alguma religião mas por buscarem vantagens com a venda do pau brasil da ocasião. Defendendo-o contra as imitações e as armadilhas diretas ou indiretas à sua comercialização.

Dentre as quais as barreiras para dotar o Brasil da infraestrutura de energia, de transporte, de produção, de formação de profissionais capazes de não esmorecer nos seus esforços de vender pau brasil , como se a nossa vida dependesse disto.

E não é que depende!










Um comentário:

Pio Borges disse...

Duarte Pacheco Pereira é o nome do "descobridor" real do Brasil. No texto acima por distração comecei a chamá-lo de Duarte Coelho.
Para que este texto não seja apenas uma errata informo que quem negociou e assinou o Tratado de Toirdesilhas em nome do rei de Portugal foi o Duarte Pacheco Pereira.
Sua viagem às novas terras é um caso exemplar do "Mata a cobra e mostra o pau!!!"