terça-feira, 15 de junho de 2010

O que vamos fazer com tantos estádios se o futebol continuar assim? Uma ideia a considerar...




Não consegui uma boa ilustração juntando futebol, rei nu, e mudanças, mas achei que esta seria mais agradável...

Há um bom tempo fui um dos sete co-autores do livro “Futebol no Bolso”, muito elogiado na época por críticos, jornalista e por seus 10 mil compradores às vésperas da Copa do Mundo de 1966...

O livro justificava o “no Bolso” do título devido a seu formato e de expor, como num Almanaque, tudo o que se precisava saber sobre futebol .

Foi considerado por gente como o Stanislaw Ponte Preta ( Sérgio Porto) como o tira teima capaz de sanar qualquer discussão sobre futebol num país repleto de técnicos.

Por isto mesmo, sem ter dedicado depois disto um minuto da minha vida profissional ao futebol , ouso escrever este texto que poderá ser a primeira denúncia (ou a primeira percepção) de que o rei está nu.

O primeiro jogo do Brasil hoje vai ser na visão deste Almanaque um divisor de águas com profundas implicações para o seu bolso.

Se o futebol estiver ficando nu (como o rei do conto) , como a mim está parecendo ficar, a Copa da África vai ser de fato a primeira Copa Mundial da Pelada jogada por equipes de salto alto.

Uma porcaria, uma perda de tempo, uma perda de dinheiro, um sinal de fim de uma época.

Lembro a cada leitor que no início do século 20 os clubes de futebol do Rio de Janeiro eram originariamente clubes de regatas.

Regatas de barcos a remo.

Regatas que reuniam a coisa mais próxima das multidões nas margens da baía de Guanabara para assistir “renhidas competições” entre Vasco, Botafogo, Flamengo, São Cristóvão, Boqueirão do Passeio e mais uma dezena de clubes que decidiram expandir as suas atividades incorporando o futebol como um novo esporte para os seus torcedores.

Os jornais dedicaram mais e mais espaço gratuito ao novo esporte repleto de termos em inglês com keepers, backs, Center halfs , fouls , penalties e goals. Campos de futebol (fields) foram se transformando em estádios num movimento que ocorreu em centenas de países do mundo, sob comando da FIFA.

Pesquise num sebo e se por algum milagre encontrar um exemplar do Futebol no Bolso leia a história do esporte e comprove como ele passou por mudanças radicais nos primeiros 70 a 100 anos de existência.

Se nesta Copa da África prosseguir esta tragédia esportiva as novas mudanças podem nos doer no bolso muito mais do que as discussões sobre o futebol.

Se jogarmos bem hoje, coisa que considero às 9 horas da manhã no Rio, impossível não acontecer, vamos nos entusiasmar e alongarmos a nossa visão otimista quanto à nossa próxima Copa.

Se jogarmos a mesma porcaria que está sendo jogada por estes grupos de peladeiros até agora apresentados (menos Alemanha e menos espasmos da Holanda, etc, e etc.) vamos começar a pensar no desperdício de recursos para a Copa de 2014 no Brasil.

O sambódromo do Rio para ser construído por notórios desperdiçadores de dinheiros públicos justificou o dinheiro gasto para uso restrito a um carnaval por ano pela ocupação dos camarotes como colégio público durante o resto do ano.

Os novos estádios para a Copa no Brasil tenderão a continuar tão desertos quanto os velhos estádios de hoje durante os últimos campeonatos brasileiros.

Portanto ao escrever antes do jogo contra a Coreia do Norte ouso identificá-lo como o mais importante da nossa história do futebol.

Dele vai depender se teremos de adaptar estádios para outras atividades. Talvez os dotando de terminais em cada cadeira que permitam esportes serem jogados on line e ao vivo por todos os que pagarem ingressos.

E os jogadores passem a ser gladiadores virtuais, vampiros, ETs , sei lá.

Já pensou quando o público imitando os romanos do Coliseu decidir pela morte súbita dos frangueiros e eles de fato morrerem diante das torcidas retorcidas?

Cara, acho que já achamos a solução para o futebol no futuro, qualquer que seja o resultado do jogo de hoje...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Desculpe pai, é bonito, mas não é verdade...

Para perceber como a vida é rápida só existe uma forma: viver.

Por mais que racionalmente possamos imaginar o futuro o simples fato dos dias se sucederem um a um nos leva a pensar que tudo ocorra muito lentamente.

Nada mais enganoso. 2010 já está bem distante, em termos humanos, da década em que nasci. Mas, para mim, parece que foi tudo muito recente.

Lembro de um soneto recitado de memória por meu pai quando eu ainda era um rapazola que ao mesmo tempo me entusiasmava e me assustava. Nele o autor, um padre, cearense como meu pai, cultuado como "o príncipe dos poetas cearenses", fazia a separação nítida do mundo dos jovens do mundo dos idosos.

Foi para mim um tremendo incentivo para que enfrentasse o mundo sem medo de perder tempo, pois o tempo era para os jovens a munição sempre disponível, que iria garantir meu poder de fogo durante um bom número de anos.

E estes anos na visão minha visão de rapazola durariam enquanto eu desejasse que perdurassem.

Mas o soneto, reproduzido a seguir reserva um fim de jornada nada otimista para o mesmo rapazola quando, por simples decurso de prazo, ele conte com mais anos adicionados à sua vida.

Ora, querido pai, peço licença para discordar do padre Antonio Thomaz e de você.

Eis o soneto:

CONTRASTE Antonio Thomaz Lourenço

“Quando partimos no verdor dos anos
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás!”


Sempre que me lembrava do soneto ao longo da vida receava o momento em que a última estrofe me atingisse e morria de medo de me tornar um trator arrastando desenganos atrás de mim.

Confesso que a vida vivida por mim até hoje esteve e está sempre em ebulição e para meu profundo prazer declaro que as minhas esperanças continuam comigo à frente.

Ontem quando fiz uma palestra no evento DBM 20 anos e principalmente ao ouvir as palestras de meus colegas tive a certeza de que por mais tempo que tenha à frente há muito mais esperanças para levar comigo à frente do que desenganos para tornar tristes os meus dias.

Graças a Deus.

Graças a Deus, e também a meu pai e ao padre pela permanência num cantinho de minha memória deste soneto como um sinal de alerta vermelho.

Hoje eu o recomendo para assombrar criancinhas levando-as a enfrentar o mundo mais profissionalmente apesar de sua pouca idade...

É como aquele estandarte que os legionários romanos levavam nas marchas triunfais dos generais em suas marchas triunfais em Roma: Memento mori.