segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!"

Sempre que nós habitantes de cidades nos deparamos com o céu estrelado das zonas rurais temos duas reações mais ou menos previsíveis: a admiração meio estupefata diante da beleza e a amplidão e um ligeiro desconforto por não darmos àquele espetáculo a atenção respeitosa que ele certamente merece receber. Nós não ouvimos as estrelas.

Daí a citação do Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (o único poeta cujo nome é um dodecassílabo heróico) que escreveu estes versos sempre repetidos tornados agora o título deste post : Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!"

Uso a frase aqui para pedir a sua atenção sobre aspectos “operacionais” de nossa viagem na Terra, da mesma forma como o fazem o piloto ou sua tripulação quando identificam turbulências que irão interromper o serviço de bordo nos aviões de carreira por alguns minutos.

Esta nossa Terra apesar de todas as queixas que possamos ter em relação ao que encontramos nela, desde gente desagradável a situações incômodas, sem falar das condições meteorológicas contrárias aos nossos interesses de faltas ou excessos da mais variada formação é a melhor definição de paraíso, qualquer que seja ele, descrito por qualquer que seja a religião.

A água, insistentemente buscada por engenhos espaciais nos planetas que nos cercam, foi tão abundante e generosa por aqui que assegurou a nossa vida e a vidas de milhões de outras formas vegetais e animais. Além de se exibir maravilhosa em mares, cachoeiras, rios, lagos e em copos na sua formulação química do H²O ou em suas infinitas mutações em vinhos, cervejas, alimentos que para muita gente são muito mais atraentes do que a sua forma original.

O problema de marketing que trago (sem trocadilhos) aqui se refere ao nosso planeta e a nossa interação com as estrelas que Bilac recomendava ouvir.

A nossa Terra tem bem medidos quatro bilhões e 600 milhões de anos. Antes disto só existia o Fla-Flu que segundo Nelson Rodrigues, foi o jogo que surgiu quarenta minutos antes do nada.

A reação químico-física que entendemos como vida começou a outros bem medidos 400 milhões de anos. Nós mesmos, seres humanos, se fôssemos esperar a hora de entrar em campo e todos estes milhões de anos fossem comprimidos em 24 horas para que pudéssemos ter uma idéia mais analisável de sua duração teríamos aparecido apenas um segundo antes da meia noite do primeiro dos dias iniciados há 400 milhões de anos.

Este segundo final na escala real ocorreu há uns três milhões de anos, destes que a gente comemora a cada dia 1º de janeiro, durante os nossos desejáveis cerca de 100 anos de existência. Hoje nós somos cerca de 6 bilhões de pessoas, temos cerca de um bilhão de computadores e estamos dedicando cada vez mais tempo para analisarmos a manutenção da nossa grande nave espacial e a relação dela com o universo em que estamos enfados.

Nunca tantas pessoas, tantas entidades, tantas inteligências se dedicaram a manter a Terra em condições de nos conduzir no universo de forma correta, sem que ela venha a nos deixar sem pé, por nossa própria culpa.

Pois bem, aqui na Terra, ao longo dos seus bilhões de anos de existência tivemos a vida quase eliminada por pelo menos seis vezes devido à convergência de sua órbita com as órbitas de objetos derivados de estrelas que denominamos de meteoros, asteróides e cometas, cujos impactos nos mais diversos locais realmente causaram grandes transtornos.

Algo bem maior e pior do que, por exemplo, os quilômetros de engarrafamento de São Paulo fossem da Terra ao Sol por alguns anos e ninguém pudesse abrir sequer a porta dos carros, nem para comer, nem para respirar com as conseqüências esperadas diante desta confusão que somente poderia ser atribuída à vontade de Deus.

Na última destas grandes confusões objetos cósmicos X Terra, há 65 milhões de anos, quando os dinossauros e 75% da vida na terra desapareceram a espécie humana, pensante e imaginosa, ainda não tinha sido criada, por conseguinte ainda não havia por aqui quem pensasse na existência de Deus.

E, a bem da verdade - que é o cimento deste texto - devemos reconhecer que desde que nos vários pontos da Terra povos isolados entre si concluíram ser Deus o responsável pela existência de tudo, nunca mais aconteceu neste planeta esta esculhambação de asteróide destruir tudo para recomeçar tudo da estaca zero.

O problema é que justamente agora, ao longo da minha existência, estas questões de destruição de nossa nave são cada vez melhor diagnosticadas a ponto de nos fazer pensar nestas coisas.

Julio Verne no fim do século XIX escreveu sobre viagens à lua e submarinos e menos de 100 anos depois o imaginado tornou-se real. Há mais de 10 anos ficção de asteróides acertarem a Terra transformou-se em filmes cheios de heróis encarregados de explodi-los antes de nos acertarem. Mau sinal.

Além disto, o lado estelar interno da Terra de matéria ígnea também tem andado mais ou menos comportado e há alguns milhões de anos não temos por aqui uma elevação do solo súbita como a formação dos Andes, ou do Himalaia, criando destruições decorrentes na não observação dos cuidados em grandes obras públicas. Tsunamis de terra globais não tinham na ocasião a quem serem atribuídos, já que tudo isto aconteceu antes dos homens e antes dos homens descobrirem Deus.

No Colégio Andrews tive um professor de Matemática, Miguel Ramalho Novo, que me plantou uma semente de ceticismo diante de situações que só deixam de ser teóricas quando se realizam.

Dele guardei uma definição sobre metafísica:

Metafísica é uma coisa que com ou sem a qual, é tal e qual.

Este artigo é metafísico na visão do Professor Ramalho, mas o seu mérito – se posso reconhecer um mérito nele – é o de nos levar a pensar no efêmero que tanto pode ser aplicado aos poucos segundos dos fogos de artifício como a poucos milhões de anos dependendo a escala usada na sua medição.

O Ike Zarmati há muitos anos me contou a história de um vizir árabe que se tornou o grande conselheiro de seu rei quando a pedido dele lhe sugeriu uma frase a ser usada demonstrando a sua grande sabedoria, diante de qualquer situação, boa ou má.

- E, no entanto, isto também passará.

É um bom ponto de partida para você conformar-se em ser efêmero, num planeta efêmero. Especialmente se esta efemeridade manifestar-se.

“Perdeste o senso” como disse o Bilac?

Ou talvez a solução Deus, a que chegaram os homens, pode ser parte da resposta?

2 comentários:

Roberto Cunha disse...

É nestas horas que vemos o quão importante é aproveitar o momento. O passado não existe mais e o futuro é agora. O resto, como dizia Shakespeare, é silêncio.

Abraços,

Roberto.

railer disse...

sempre que viajo pra minas eu posso ter esse prazer de ouvir as estrelas.

acho muito bom ter esse contato de vez em quando, com essa imensidão. da mesma forma que tomar um banho de mar, passar um tempo olhando o céu é algo que me nutre de muita energia.