segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Horas ganhas e horas perdidas. Dias ganhos e dias perdidos... Carpe Diem enquanto pensa nestas coisas, é a dica deste Almanaque







Zanine dizia a seus alunos que quem conseguisse fazer uma boa e bela cadeira com as suas próprias mãos seria capaz de fazer casas.

Há pelo menos uns 20 anos “descobri” uma novidade que naturalmente não devia ser novidade para quem já atuava na área.

Uma bobagem aparente que chamou a minha atenção em todos os trabalhos e atividades que tive dali em diante.


Aqui está o taxímetro capelinha que registrava tudo: bandeiradas, quilômetros em que o táxi faturava e os quilômetros em que rodava vazio. Tremenda lição para prestadores de serviços...


Havia um ponto de táxi diante do Centro Empresarial em Botafogo e nele havia um único táxi que tinha um taxímetro analógico, da marca Capelinha, que exibia além do custo da corrida, uma série de outras informações numéricas, em números menores na parte de baixo do painel.

Eu perguntei ao taxista quê números eram aqueles.

Era um dos poucos taxímetros “dedo-duro” fabricados pela Capelinha antes da invasão dos taxímetros digitais. Nele apareciam os quilômetros rodados com o taxímetro ligado (com passageiro), os quilômetros rodados sem passageiro, quantas “bandeiradas” haviam sido dadas, e desconfio que outra contagem dos quilômetros com bandeira dois.

Um táxi operado por um empregado tinha ali no taxímetro o olho do dono o tempo todo em cima do motorista. Não havia como esconder os ganhos, nem a fonte dos ganhos.

Este taxímetro , já no limiar do desaparecimento dos taxímetros analógicos, não teve muito sucesso, pois não lembro de ter visto outros em atividade. E porque a razão de sua existência passou a ser eliminada pela simples cobrança da diária por parte dos donos de táxi aos motoristas.

Não precisava saber quantos quilômetros o carro havia rodado com o taxímetro ligado ou não.

O dono exigia limpos 100 reais ( ou equivalente ) por dia e toda a contabilidade ficava a cargo do motorista.

Mas, aquele taxímetro demonstrou para mim com dados fáticos o problema de como buscar a remuneração quando se prestava serviços: quanto se tinha de rodar com taxímetro desligado para obter os quilômetros rentáveis com o taxímetro ligado.

Com táxi, regularmente , a quilometragem rodada com passageiros era equivalente à quilometragem rodada sem passageiros.

Metade do tempo do tempo do táxi rodando nas ruas era sem faturamento.

Logo o faturamento com taxímetro ligado tinha de pagar os quilômetros rodados sem faturamento, garantir um lucro que permitisse não só a manutenção como a troca do carro depois de alguns anos. E o lucro de todos os envolvidos.

É curioso como algumas simplificações conseguem condensar em uma atividade apenas a chave de grandes mistérios em várias atividades.

Um amigo me disse um dia que o Zanine, autor de belas casas no Rio de Janeiro construídas com material de demolições – que não era arquiteto – deu aulas na Universidade de Brasília, na faculdade de arquitetura. Tenho a impressão que ele ensinava como fazer maquetes.

Mas, ele também pedia aos alunos que construíssem uma cadeira de madeira. Sem dar muitas indicações. A cadeira poderia ter qualquer formato. O que ele pedia era uma cadeira.

A cadeira tinha ser sólida, firme, não ficar bamba quando alguém se sentasse nelas. Tinha também de ser bonita, funcional e que pudesse ser copiada .

Quando o aluno apresentava o seu trabalho Zanine dava a nota e informava a eles que quem conseguia fazer uma cadeira com estes predicados seria capaz de construir uma casa, qualquer casa.


O Zanine, antes de ser reconhecido como arquiteto por sua obra construiu belas residências por que sabia construir cadeiras com perfeição. São Conrado e a Joatinga têm algumas destas casas em suas ruas.

Como ouvi esta história há muitos anos (posso estar exagerando agora, mas juntando a duas histórias – a da arquitetura e a do táxi) - acho que posso garantir que quem consiga administrar um táxi com as suas quilometragens e seus passageiros conseguirá também administrar uma empresa de serviços,

Convido você para visitarmos a nossa área do marketing.

Quando o profissional de marketing está com o taxímetro ligado e quando tem de rodar sem um passageiro pagando a corrida?

É claro que todo o fornecedor de serviços terá de rodar muito tempo, muitos quilômetros sem faturar um tostão sequer.

Mas também posso garantir que o tempo sem passageiros é essencial para obter passageiros para poder ligar o taxímetro. E ganhar dinheiro.


Do mesmo modo que o táxi sem passageiros deve rodar em regiões onde há maior potencial de atraí-los o profissional de marketing deve preferir rodar vazio em áreas onde haja mais possíveis clientes.

Congressos, seminários, cursos são óbvios. mas, outros ambientes diferentes podem ser tão propícios a achar “passageiros” quanto os mais óbvios.

Um mapa infalível para identificar áreas em que passageiros podem estar necessitados de “táxis” no mundo do marketing exigirá um bom feeling do profissional de marketing. Que poderia ser chamado de vocação.

Tenho uma regra cuja a precisão a cada dia me parece mais confiável.

Não há planejamento de marketing que tenha sido feito visando atender a necessidades diferentes das que vou citar a seguir.

As 9 necessidades humanas

 Ganhar Dinheiro
 Aprimorar-se
 Pertencer a um Grupo
 Economizar Dinheiro
 Economizar Tempo e Trabalho
 Ajudar a Família
 Sentir-se Seguro
 Impressionar os outros
 Ter prazer


A maior virtude objetiva de um profissional que se dedique à prestação de serviços deverá ser desenvolvida com a finalidade de manter o seu taxímetro mais tempo ligado.

Como será o “taxímetro” dele em relação aos quilômetros cobrados e os quilômetros com a bandeira do livre indicando o não recebimento de dinheiro?

É algo bem mais difícil de definir.

O tempo diante de um livro, as horas na Internet, a conversa com os amigos, o tempo relaxado para saborear refeições, beber vinhos, dar boas risadas, apreciar as coisas boas da vida tudo isto se faz com o taxímetro desligado.

E se você quiser imaginar uma espiada no inferno, pode ter a certeza de que ali só vai encontrar “hóspedes” de Satanás condenados pela eternidade a viver com o taxímetro sempre ligado.

Todo o prazer, ou pelo menos a maior parte dele não existe mais e esta seria a condenação mais terrível para qualquer ser humano.

Nós fomos agraciados com um cérebro bem superior ao uso que dele fazemos para sobreviver, e temos cada um nas suas respectivas cacholas algo muito mais poderoso do que qualquer supercomputador feito por alguém.

O nosso supercomputador não tem tecla para desligar.


Quando estamos acordados ele fica captando dados aleatórios, como a visão fugidia de uns pinheiros plantados diante de uma casa de subúrbio e imediatamente relacioná-los com outros pinheiros cuja memória estava guardada, sem nunca ter sido exigida, desde os tempos do colégio primário, onde havia pinheiros iguais a aqueles na frente do colégio em Copacabana.

O tempo para isto tudo acontecer foi menor do que digitar agora a palavra agora.

Esta massa tão poderosa não foi aprimorada geração após geração para nos dar tristezas, foi para nos possibilitar a vida com prazer.

Está comprovado que as pessoas que levam vidas mais prazerosas vivem mais.
.
Como a vida longa é desejada por todos, e a pior pena para os homens é a condenação à morte, fica aqui comprovado que a busca incessante do prazer é o grande desafio a ser constantemente buscado na vida.

Mas, se já vimos que o prazer sempre será buscado com o taxímetro desligado temos um problema a resolver: como definir as horas dedicadas ao taxímetro ligado e como definir que a hora não é para brincadeiras?

O nosso planeta desde que existimos gira em torno de seu eixo e nos faz sentir a sucessão de dias e noites.

A lua, também gira e torno do planeta e a cada 28 dias mostra a sua fase de lua cheia, demonstrando que há outras maneiras de medir o tempo. As mulheres em idade fértil seguem as fases da lua para revelarem-se abertas à fecundação de seus óvulos , o único ponto de partida para toda a evolução da nossa espécie durante alguns milhões de anos.

Estes ciclos naturais, dias e noites, fases da lua, e mais as estações do ano sucedendo-se a cada 12 meses inventaram a medição do tempo a que todos os povos aderiram. E aderiram não para imaginar as horas em que estariam com os seus taxímetros ligados, mas para limitarem as horas de prazer sem compromissos maiores.
Todos os povos que criaram alguma coisa que se possa chamar de civilização definiram que de tempos em tempos haveria um dia sem trabalhos, pelos mais diversos motivos.
Sempre que faço generalizações sobre a humanidade, brasileiro que sou, penso nos nossos índios. Tenho a quase certeza de que os ianomâmis, por exemplo, que há pelo menos uns 10 mil anos vivem “isolados” da civilização, não têm dias de descanso no que poderia ser a sua semana.




Aqui estão os ianomanis, que vivem no norte do Amazonas exatamente assim há mais de 10 mil anos e são muito felizes.


O mecanismo do tempo deles, preciso e comprovado como o nascer do sol, é a lua.
O dia do índio requer trabalhos os mais diversos entremeados com o que poderíamos classificar como diversões.

Tenho lembrança de descrições de amigos que os visitaram e dormiram em suas ocas que testemunharam que quando quando alguém tem um sonho marcante, acorda todo mundo e não espera a manhã para contar o seu sonho:avisa que vai contar o seu sonho e todos (os que acordam, naturalmente) prestam atenção ao que o sonhador conta.

Sonhos têm para eles significados muito importantes, coisa que descobriram bem antes de Freud se dedicar a estas coisas. Por isto ouvir os sonhos e interpretá-los recebe mais atenção por parte da tribo do que uma previsão do tempo de alta qualidade tecnológica numa emissora de televisão.

Eles consideram o sonho como base para interpretar o que irá acontecer no futuro.

O “taxímetro” dos índios destas tribos isoladas está sempre ligado, num módulo diferente do nosso.



Aqui estão borboletas amarelas em seu bravo esforço para preservar a sua espécie.


Me vi numa situação parecida com a dos índios, quer querem ouvir e interpretar sonhos quando sozinho do no alto de um morro, em dia de vento forte, prestei atenção a uma borboletinha amarela, sem muita graça, que veio do norte batendo suas asas com um esforço imenso e enfrentava um sudoeste capaz de virar veleiros pequenos numa baía.
Borboletas não assistem previsões meteorológicas.

Borboletas sabem das condições meteorológicas pois vivem e são parte do tempo.

Borboletas até prova cabal em contrário não ficam paradas, junto a outras borboletas fazendo comentários sobre o tempo.

Borboletas também não riem, não têm horas de lazer, não têm horas de trabalho. Ou melhor borboletas e todas as espécies vivas não humanas – vegetais, animais, bactérias, vírus – só têm uma atividade na vida: preservar a sua espécie.

A preservação de nossa espécie também é uma tarefa diária de todos os seres humanos, mas há muitos milhares de anos deixou de ser a nossa única tarefa.

Vamos de volta à borboletinha amarela. No meu pensamento humano tive de especular: quê esforço maluco deste inseto idiota para voar contra este vento terrível para não fazer nada!

E foi com esta especulação que cheguei ao máximo respeito pela borboletinha no contravento.

Ela está em plena tarefa de preservar a sua espécie, coisa que vem dando certo há alguns milhões de anos e só tem dado certo para borboletinhas amarelas porque bilhões de borboletinhas amarelas têm voado no contravento sem um comando institucional para fazer aquele esforço todo.

Milhões delas morreram durante este esforço que me pareceu inútil.

Mas, ao pensar nisto constatei que a borboletinha era infinitamente mais séria do que eu que estava ali apenas fazendo especulações sobre o seu esforço “inútil”.

Movida por algum campo de força a borboletinha fazia o que ela devia fazer.


Como as aves migratórias que se mandam todos os anos do ártico para os nossos mares orientadas por bússolas internas já percebidas por cientistas que desmontaram os seus cérebros em busca do segredo de seus voos de mais de 10 mil quilômetros sem mapas e até sem visibilidade do solo.

E os salmões e enguias que nascem nas cabeceiras de rios, descem até o mar salgado, e voltam para os seus rios de nascença anos após a partida para porem seus ovos enfrentando corredeiras, pescadores, ursos apreciadores de sua carne?

Nenhum deste bichos ao que se saiba dedica qualquer instante de suas vidas ao que poderíamos chamar de lazer. Não riem, não perdem tempo em bate papos (nem em leituras). Nascem, crescem, se reproduzem e morrem sem que nenhum contemporâneo animal cogite de registar a sua vida. É tudo a mesma coisa.

Na nossa espécie é que ganhamos (graças sejam dadas a Deus) tempo para fazer especulações sobre a vida e o que podemos fazer enquanto não cuidamos da pura preservação de nossa espécie.

Só vale a pena especular sobre estes fatos para que nos seja uma boa indicação para aproveitar melhor os nossos dias.

Em latim fica melhor: Carpe Diem!


O autor foi um poeta romano, Horácio, e a dica aparece no seguinte texto:

Tu não indagues (é ímpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses
tenham dado, Leuconoé, nem recorras aos números babilônicos. Tão
melhor é suportar o que será! Quer Júpiter te haja concedido muitos
invernos, quer seja o último o que agora debilita o mar Tirreno nas
rochas contrapostas, que sejas sábia, coes os vinhos e, no espaço
breve, cortes a longa esperança. Enquanto estamos falando, terá
fugido o tempo invejoso; colhe o dia (carpe diem) , quanto menos confiada no de
amanhã.


Na tradução no verbete Carpe Diem na wikipedia.

O conselho de Horácio continua ainda mais válido hoje do que em Roma.

Vamos para mais perto de nossos dias.

Shakespeare, que por incrível que pareça era desprezado solenemente por Voltaire, que o considerava apelativo e ignorante, disse outra coisa no Hamlet:

“Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.”


Tal como as borboletinhas amarelas que somem no seu esforço de voar contra ventos fortes Shakespeare acha que a vida não passa de uma sombra passageira, um ator medíocre que se esforça no palco. E de repente deixa de ser ouvido e não passa de uma lenda cheia de som e fúria, contada por um idiota. Sem qualquer significado.
O que fazer diante de tantos desafios?

Até onde devemos rodar com o taxímetro desligado? Até onde tentar fabricar a cadeira pedida pelo Zanine? Quanto tempo devemos dedicar à nossa busca por passageiros? E quanto tempo para observar o que acontece na Terra a que pertencemos?

O conselho de Horácio é até agora o mais sábio.

Para não nos empolgarmos com a Visão soturna de Shakespeare e acharmos que nada do que façamos vai valer a pena.

Aliás, para desfazer a grande aura do Shakespeare, nada melhor do que desligar o seu taxímetro e dedicar algumas horas ao Dicionário Filosófico de Voltaire.

Garanto que você vai se sentir melhor quando fizer isto.

Carpe Diem!





Um comentário:

Pio Borges disse...

Este blog é uma exceção ao gênero: falo demais. Mas, embora receba poucos comentários aqui, recebo alguns por e-mail.
Amigos, amigas, parentes me perguntam porque escrevo. A única resposta que tenho é por que gosto e o Almanaque permite...