terça-feira, 8 de maio de 2012

Quando você fica calado, e não abre a boca, corre o risco de ser visto como um imbecil, mas quando fala ou escreve pode eliminar qualquer dúvida sobre isto...





Quem falou esta frase, ou algo parecido, foi Mark Twain.

Só uma relação resumida de suas citações faz dele – para mim - o maior filósofo americano.

Não pela esperteza inteligente de suas frases, mas pelo profundo conhecimento da alma humana necessário para criá-las, mesmo sob a forma de frases isoladas, fora do contexto de um grande trabalho.

Otimismo e Pessimismo são palavras que apareceram muito no noticiário nestes dias em seguida às eleições europeias.

Como vai ser o mundo quando esta turma nova de dirigentes cumprir o que prometeu a seus eleitores para ganhar seus votos?
Cada promessa em relação às relações econômicas de cada país afetará o país ao lado.


Há muito tempo muita gente ganha dinheiro e bom dinheiro ao analisar como um legista faz numa autópsia quais foram as causas da morte de uma pessoa. Os analistas definem as causas das mortes dos países, das nações, dos regimes, das ideologias.


Usei a imagem do legista ao examinar corpos sem vida – que já nada podem fazer para reverter o que os levou à morte – por que as análises sobre países têm de ser feitas sobre casos liquidados.

Enquanto o nazismo, ou o comunismo stalinista, ou a política colonialista europeia, todas elas existiam ativas no mundo nada se podia dizer de definitivamente bom ou de mal sobre cada coisa destas, pois sempre não se podia prever o dia de amanhã.Todos se propunham a melhorar a humanidade, desde que...

Claro que se podia arrasar o nazismo pela simples leitura do que seus dirigentes propunham, mas e isto é bem estranho para nós, nascidos depois do furor nazista ser difundido no mundo, que ninguém tenha liquidado com meia dúzia de palavras com aqueles absurdos.

A mesma coisa se aplicava – e ainda se aplica – ao comunismo que tem compartilha do mesmo denominador comum com o nazismo: delegar aos chefes instituídos como chefes o poder (de vida ou morte) sobre o que os liderados devem pensar fazer ou querer

Esta mesma disposição autoritária compartilhada pelos detentores do poder incentiva nos seres humanos não pertencentes ao grupo dos poderosos a adotar várias formas de enfrentar os desafios de suas próprias vidas.

Numa divisão simplista e simplória há uma explicação simples para estas atitudes pessoais:

O lado simplório desta informação é admitir que só se possa ser otimista ou pessimista, sem espaço para as milhares de nuances que existem entre as duas posições.

Apelo, porém, a seu bom senso ao sugerir que classifique as pessoas que conhece (seus familiares, colegas) e veja como é capaz de dizer quem são os otimistas e os pessimistas sem muita dificuldade.

Falo isto aqui no Almanaque para usar a metáfora mais batida do mundo: diante de um copo com água pela metade o pessimista vai dizer que ele está meio vazio, enquanto o otimista vai dizer que o copo está meio cheio.


A União Europeia com a sua moeda o euro (com a exclusão do Reino Unido, da Islândia e de mais uns dois ou três de menor importância) saiu dividida das eleições entre otimistas e pessimistas.

Independente da ideologia dos eleitos. Quem votou nos direitistas ou nos esquerdistas o fez por ter a certeza de que seus escolhidos terão a capacidade de tornar os seus países melhores para eles, seus filhos e netos.

Os oponentes – na sua visão – seriam exatamente os dirigentes que tornariam as suas vidas mais difíceis.

Não há como fugir ao conceito de rivalidade.

Um conceito nascido dos problemas que os povos sempre tiveram com os vizinhos ao longo dos rios: quem estava rio abaixo tinha queixas justas quanto ao uso das águas pelos que moravam rio acima, produzindo sujeira na água a ser consumida por eles.

Quem estava de um lado do rio invejava o que as pessoas do outro lado podiam ter, podiam cultivar, ou podiam acessar sem ter de construir pontes, ou estabelecer acordos que fatalmente dão mais vantagens a quem os propõe.

Rivalidade existiu muito intensa quando brasileiros (em sintonia com paraguaios) quiseram construir uma represa imensa e com ela gerar energia elétrica abundante para o Brasil e muitas vezes mais do que a necessária para o Paraguai por muitos anos.

Os argentinos, rio abaixo, quase declararam guerra. Por imaginarem que se um dia houvesse uma dissensão maior com os vizinhos rio acima - Brasil e Paraguai – eles poderiam abrir todas as comportas de Itaipu e deixar Buenos Aires e cidades fronteiras ao rio da Prata debaixo de 2 metros de água.

Você dirá que nunca faríamos esta molecagem. Mas, isto explica e ilustra a rivalidade.

Na Europa a rivalidade come solta desde os tempos dos romanos que inventaram a palavra.E nos deram o arcabouço de nossos fundamentos jurídicos.

Portugal na Europa tem uma área de 90 000 km2 equivalente a dois estados do Rio de Janeiro.

Não é tão pequeno quanto parece, mas colado à Espanha parece bem menor. No entanto Portugal tem em seu território grandes diferenças entre os habitantes do norte e os do sul e evidentemente suas rivalidades são percebidas numa simples referência de uns aos outros.

Os portugueses que revelam no rosto a herança de 800 anos de ocupação pelos mouros são diferentes dos minhotos por vezes louros e com um modo de falar que consegue ser um “sotaque português” diferente.

E eles trouxeram as suas rivalidades para o Brasil, como a trouxeram para o Brasil todos os imigrantes espontâneos ou forçados que vieram parar aqui.

Na Itália há pelo menos 26 variações da língua falada, é quase um modo de falar de vale para vale, de ilha em ilha. Tudo isto embebido em profundas rivalidades que só deixaram de ser bélicas há pouco mais de 100 anos.


Se dentro de um país como a Itália, tão generoso e acolhedor, ocorrem estes traumas saia voando sobre todos os países e não irá espantar-se ao constatar que há uma profunda cizânia em cada país. O que se dirá de cada país europeu diante de seus “vizinhos mais distantes os brasileiros?

Os subsídios aos agricultores franceses – para mantê-los ocupados – e a todo o processo de produção e exportação de produtos agrícolas impedem que alguém no Brasil possa ganhar dinheiro com couves de Bruxelas, por exemplo. Há couves de Bruxelas congeladas francesas à venda em qualquer supermercado brasileiro por alguns reais.

Este é um exemplo pequeno que só tem a única virtude de ter sido extraído da vida real. Mas, se aplica e se aplicará a todo segmento agrícola, pois a disputa pelos dólares, o esforço para dar ocupação a cada vez mais desempregados não pode ser desprezado em momento algum pelos gestores de cada país.

Entre os otimistas e os pessimistas está a realidade.


O copo, por mais duro que seja a declaração, está com a água pela metade. Nem o otimista de carteirinha nem o soturno pessimista podem mudar a realidade do copo com suas definições.

Da mesma forma que o nosso mundinho não se tornará nem pior, nem melhor em função das projeções que fazemos sobre o seu futuro.

Todo este sucesso da China (ousando o Almanaque fazer uma projeção inteiramente da responsabilidade de seu editor) não vai resistir aos números gerados pela economia.

Em algum tempo as demandas pela valorização do Yuan e das pessoas que vivem lá vão tornar a China mais parecida com o resto do mundo.

E estas mudanças ocorrem agora de forma muito mais rápida e surpreendente.

A questão do otimismo ou pessimismo vai continuar a ser uma decisão de busca de sanidade mental individual.

O mundo – nos últimos séculos – só teve melhoras em relação ao mundo em que viviam os pais e os avós de cada geração. Qualquer troca mágica da vida de um pela a de outro seria uma dura pena.


Logo, mais uma vez de forma bem simplória, os otimistas vão se dar melhor do que os pessimistas.

Todos vão morrer do mesmo jeito – cada vez mais tarde, diga-se de passagem – mas os otimistas vão ter mais prazer enquanto estiverem vivos, e se tudo for como achamos que deva ser, também bem melhor depois...

Disse o que tinha a dizer. Qual a classificação que mereço em relação a sugestão do Mark Twain?

2 comentários:

Paulo Kirschner disse...

E o que o legista do futuro vai concluir quando estiver tentando encontrar a causa mortis do capitalismo???

Pio Borges disse...

O bicho sofreu de falsa identidade durante todo o tempo que foi chamado de capitalismo.
Nunca existiu com este nome. Foi assim chamado por Marx e o rótulo serviu para colar em uma infinidade de produtos diferentes.
O problema do legista é achar o cadáver. Como achar o Zé se o Zé não existiu, mesmo?