terça-feira, 18 de maio de 2010

Emprego X Trabalho Escravidão X Salário Speculateurs X Rentiers


O gênero humano, desde os primeiros passos planejados do homo sapiens na África rumo ao norte do continente (há uns 200 000 anos) produziu duas espécies de pessoas: as que pensam, criticam e tratam de mudar o que exista e as que preferem seguir as que fazem as mudanças.

Vilfredo Pareto (1848-1923) tornou o seu nome universalmente reconhecido ao escrever um trabalho sobre a distribuição da renda entre as pessoas em que concluiu que 20% das pessoas acumulavam 80 das riquezas.

Ele originou a Lei dos 80/20 aplicada com sucesso a várias outras áreas, inclusive na área de negócios - pois as empresas obtêm 80% de seus lucros de 20% dos seus clientes.

Uma afirmativa repetida em todos os cursos de marketing desde que o tema foi abordado no século passado...

Pareto também, com o seu empenho de toda a vida de transformar a sociologia numa ciência dividiu a humanidade em speculateurs e rentiers.

Sendo os speculateurs os que ousavam mudar o mundo à sua volta e os rentiers os que “alugavam” o mundo tal como estava antes de passar pelas mudanças propostas e implantadas pelos primeiros.

Se num passe de mágica todos se tornassem speculateurs por um ano que fosse estaria automaticamente instalado o caos.

Todos inconformados com o status quo, todos tratando de fazer mudanças, algo que exige muito tempo e muita dedicação; todos abandonando os seus afazeres habituais para terem tempo de promover as mudanças pensadas.

Também, com sinais trocados, se todos se tornassem rentiers teríamos outro caos, mais danoso para a humanidade. O absoluto conformismo, a filosofia do “deixa como está para ver como é que fica” iria promover a esclerose da raça humana, algo de que tivemos uma antevisão limitada em sociedades totalitárias no século 20.

Nelas o impulso pela evolução nacional quase se anulou, por exemplo, na RDA lado a lado com a Alemanha Federal. A diferença entre as duas foi o direito de discordar e de não fazer somente o que os dirigentes deixavam fazer.

O tema desta postagem decorreu de matéria na CBN destacando a necessidade de garantir o emprego para menores carentes ao atingirem a maioridade.

E os propositores da garantia de emprego paravam por aí.

Achei isto errado e espero que você compartilhe de minha visão.

Para tratar do assunto, num mergulho no universo das idéias, procurei chegar ao que realmente é essencial para a sociedade.

Dentre várias alternativas consideradas fixei-me numa em especial: assegurar de que a cada momento haja gente suficiente e hígida para permitir o prosseguimento da sua vida e de sua evolução diante dos outros grupos humanos.

Ao chegar a esta definição simplista vi uma grande (e incômoda) afinidade com os objetivos de um time de futebol de várzea.

Mas, fiquei mais tranquilo quando me assegurei de que poderia ser aplicada com a mesma segurança também a uma cidadezinha do interior, a um estado, a um país ou ao mundo inteiro.

Arnold Toynbee (1889-1975) escreveu uma obra prima sobre as razões do nascimento e decadência de 26 civilizações ao longo da história. Esta obra em 12 volumes foi Um Estudo de História em que ele comprova que a ascensão e queda de todas elas se deu – de dava e se dará – em função da capacidade do grupo enfrentar e superar desafios de toda a espécie.

Ao superar estes desafios (que somente ao serem superados se comprovam superáveis) decorrentes da natureza, da cobiça dos vizinhos, das pragas gente reunida numa região passou a ser reconhecida como civilizações.

A sua queda ocorre quando os seus dirigentes não conseguem diagnosticar novos desafios, ou quando diagnosticam não conseguem superá-los, deixando de combatê-los.

E então suas civilizações são destruídas ou absorvidas.

Tanto nas civilizações (grupamentos humanos) que enfrentam e superam desafios quanto nas que são destruídas por não serem capazes de superá-los, as decisões, ao contrário do que possa parecer, quando nos referimos a elas como “os gregos”, “os babilônios”, “os astecas”, foram... de speculateurs em cada uma delas.

O grupo em geral, o povo, de rentiers ficou à espera que “alguém resolvesse o problema”.

Alguns destes speculateurs tiveram os seus nomes conhecidos – como os gregos do 5º século antes de Cristo. Mas, a maioria deles permaneceu completamente desconhecida. Foram chineses, astecas, incas, africanos que não contavam com registros no momento em que tomavam as suas decisões.

Suas decisões não foram registradas “jornalisticamente” quando ocorreram e por isto jamais passaram para a história.

Em nosso mundo brasileiro de 192 milhões de habitantes em 2010 vivemos numa vasta área de terras que parece quase despovoada se a olharmos de uns 80 quilômetros de altitude.

Olhando para baixo, ou em fotos espaciais, vemos grandes manchas verdes, e amareladas e uns poucos indícios de desenho diferente nas grandes cidades. Basta mergulhar no Google Earth e rapidamente você só vai perceber que existe gente quando se aproxima muito da Terra.

O mais chocante é que se o Google Earth já existisse há 200 anos, ou há 2 000 anos, e até há 20 000 anos você teria de prestar muita atenção ao sobrepor imagens para perceber as mudanças ocorridas nas terras do Brasil se estivesse a uns 80 quilômetros de altura.

Todas as mudanças que vieram ocorrendo aqui embaixo foram feitas pelos speculateurs durante as suas vidas.

Surgiram cidades, grandes área plantadas, mudanças no contorno do litoral. Quem propôs e conduziu as mudanças foram as pessoas desassossegadas a quem são devidos todos os elogios e todas as recriminações.

Hoje, no ano 2010, há um grande incentivo para que os jovens não se conformem com o status quo.

Tudo que era o mais certo no início do século 20 não é mais tão certo no início do século 21, e há um campo imenso para promover mudanças.

As mais visíveis são as relacionadas ao comportamento humano em relação às demais pessoas.

A arte, em todas as suas manifestações, faz a espécie humana tornar-se igual a Deus, ao fazer coisas que literalmente endeusam os criadores com toda a justiça.

As artes interativas vão dominar a imaginação das próximas gerações, desde que elas não sejam patrulhadas em sua flama de mudanças.

A questão psicológica ou sobre a alma e forma das pessoas se darem conta (ou não) de sua importância abre perspectivas entusiasmantes para todas as pessoas. Como nunca antes na história da evolução dos seres humanos.

Não existem hoje, em 2010, barreiras instransponíveis.

O desafio é que daqui em diante nem o que chamamos hoje de barreiras irão existir.

O que fazer diante desta tela branca e todas as tintas que estarão a nossa disposição?

Daí a minha reação contrária à proposta do entrevistado da CBN que desejava demonstrar que a grande função de sua organização era a de garantir um emprego aos jovens por ela assistidos.

Na minha visão fazer isto com o mundo de oportunidades aberto a todos será o equivalente a ensinar pessoas a serem os melhores escravos ou a de tornar todos os possíveis speculateurs em comportados rentiers.

Proponho que cada um de nós adote como programa operacional transformar a todos – em especial, os jovens – em gente sem resistência às mudanças e preparar a todos para fazer estas mudanças o quanto antes.

Devo confessar que estou com certa pressa e não terei tempo para esperar pelo fim do século 21 para conviver com estas mudanças geniais que estão delineadas diante de nossos olhos.

2 comentários:

Braulio França disse...

Eu também, Pio!

Pio Borges disse...

Ontem (no segundo dia de um seminário da ABA Rio sobre como tornar o Rio num produto valorizado pelo o que aqui vai ocorrer) o tema central foi exatamente falar menos e fazer muito mais.
O que você Braulio, fez.