sexta-feira, 11 de setembro de 2009

55 mil metros quadrados com ideias a considerar; É a Bienal do Livro

Estive ontem percorrendo os 55 mil metros quadrados da Bienal do Livro no Rio Centro do Rio de Janeiro. É um excelente change of pace em relação à Internet. É o saber duramente buscado nos stands das editoras e livrarias e um bom motivo para nos sentirmos acachapados por tanta informação.

Mais de 600 mil pessoas vão passar por lá, o que vem a ser uns 10% da população do Rio. A maioria será de colegiais (mais do que estudantes) que serão levados por seus colégios para se acostumarem com esta coisa de livros e de leitura.

Li ontem que menos de 8% da população possuem livros em suas casas, além dos didáticos obrigatórios para quem esteja estudando. A maioria das pessoas não possui livros. Nem os lê.

A maioria das pessoas só sabe o que vê e ouve na televisão. E mais depressa do que çpodemos prever sua principal fonte de informações passará a ser a Internet.

É bem pouca gente, mas são umas 16 milhões de pessoas, as quais, sem dúvida somos todos nós que lemos, que somos informados, e que somos minoria no Brasil.

Somos nós que temos de tomar posições políticas em favor ou contra outras pessoas que vão governar o país e o nosso futuro próximo.

Ninguém pode alegar desconhecimento sobre qualquer tema que exista sob ou além do sol.

Na Bienal o tamanho do meu desconhecimento se torna evidente e prova ser insuperável.

Se fosse ler tudo sobre o que me interesso usaria todos os dias da minha vida e de muitas outras vidas para ... exercer o prazer de saber mais, cada vez mais e ter a certeza de que ainda vai faltar muito a aprender. Iria faltar tempo para fazer e isto é tão imperdoável quanto não saber...

Para que precisamos tanto saber ?

Temos um cérebro relativamente pequeno mas que segundo Isaac Asimov é a mais fascinante concentração de matéria existente (ou conhecida) no Universo.

Ele nos instiga todo o tempo e nos leva a pensar cada vez mais no que estamos fazendo.

Comprei um livro 1424 em que um pesquisador inglês escreveu depois de redescobrir as provas de que esquadras gigantescas chinesas percorreram todos os mares do mundo em torno de 1420, comandadas por almirantes eunucos (parece que criavam menos casos...) autores de cartas náuticas precisas de costas que seriam "desbravadas" dezenas ou centenas de anos mais tarde.

Ele disse também que os chineses nesta ocasião já eram capazes de dessalinizar a água do mar. Vôte!

O livro parece meio estranho, coisa destes malucos que aparecem nas redações de jornais dizendo que viajaram ao espaço (o que aliás a mulher do primeiro ministro japonês anda dizendo que fez) e trazem "provas" e mais "provas" do que dizem atabalhoadamente.

O livro do inglês não é mal escrito, mas seu texto deixa margens de dúvidas aqui e ali em relação às suas provas. Ele quer provar demais cada afirmação que faz. É como nos acontece quando encontramos um mentiroso contumaz que insiste para que perguntemos para outras pessoas se eles estão ou não estão dizendo a verdade...

A razão dos feitos dos almirantes eunucos chineses não terem sido absorvidos pela história é que logo em seguida às grandes viagens eles decidiram abandonar tudo o que descobriram, apagar todos os registros, sumir com as cartas feitas por que acharam que nada teriam a ganhar com o mundo. Ao contrário, chegaram à conclusão que teriam muito a perder se insistissem nesta navegações em seus juncos de 150 metros de comprimento.

Não cheguei neste ponto ainda, mas já comecei a pensar em como estas descobertas de 600 anos atrás podem impactar a nossa vida hoje.

Esta semana li notícias de que os descendentes deste mesmos chineses depois de todas as mudanças nas várias histórias dos vários povos nos últimos 600 anos tornaram-se este ano os líderes das exportações do mundo.

Podiam ter começado antes, mas preferiram fazer isto agora,e com um apetite voraz.

O que pude observar neste primeiro livro dos milhares pelos quais me interessei na Bienal é que não há nada de mais errado do que menosprezar alguém, algum povo, alguma etnia.

A denominação de "chino pants" para caracterizar as calças caquis tão em moda há alguns anos foi dada em função das roupas usadas pelos imigrantes chineses mais ou menos "escravizados" nos EUA para construir as estradas de ferro dormente a dormente no século XIX e no início do século XX.

As versões mais vistas de chineses no mundo ocidental e na nossa história derivam destes chineses trabalhadores sacrificados por falta de melhores alternativas em seu país de origem.

Mas do mesmo berço de que sairam os chineses casca grossa já havia regitro de pelo menos 5000 anos de história contínua. Filosofia, história, pesquisas, invenções e descobertas.

Eles inventaram a pólvora, a bússola e a imprensa só para citar os que aprendemos no curso primário e nos parecia uma curiosidade, na base do "veja só". Hoje, no meu livro novo, pude constatar que os chineses não inventaram estas novidades apenas para fazer graça.

Portanto, como subproduto do livro fortaleceu-se meu respeito a eles e a todas as pessoas e todos os povos menosprezados a partir de "verdades" não comprovadas.

Nós mesmo, brasileiros, somos os primeiros a nos menosprezarmos com frases do tipo:

- Também,coisas como estas (e cita uma grande merda) só acontecem aqui mesmo. Nós é que somos os culpados disto tudo. Não temos cultura, só pensamos em ganhar nosso dinheiro e estamos pouco nos importando com os outros...

Concluindo, antes que os amigos tentem me internar como maluco - mas prometendo voltar ao assunto: uma Bienal do Livro é um momento mágico nas nossas vidas.

Sem exagero. Vou provar esta declaração pelo absurdo: se alguém for mantido num chiqueiro de porcos à antiga, cheio de lama e de cocô, chafurdando para lá e para cá, dificilmente vai pensar em outra coisa além de lama e de cocô e de como não se deixar afundar nela.

Quem se deixa mergulhar no ambiente vivo de todos os livros e de todas as culturas dificilmente vai concentrar seus pensamentos em lama e em cocô...

Coisa grossa!!! Pela qual peço desculpas.

Fico muito feliz com a expectativa dos 600 mil visitantes à Bienal por que todos têm a possibilidade de alargarem os seus mundos internos por alguma leitura descoberta na Bienal.

Quem sabe uma destas pessoas possa beneficiar milhões de outras mais adiante com o que descobriu lá.

Estive com a Rosemary, a editora da Bertrand Brasil responsável pelo 1442 e ela me disse que o mesmo autor tem outro livro a ser publicado em que "prova" que o renascimento na Itália e na Europa foi propulsado pelos chineses.

Já estou ficando com medos destes caras...

2 comentários:

João Marcelo disse...

Pio, me fascina tambem a cultura chinesa... no meu caso, a medicina. So trato com um especialista, em acupuntura e remedios tradicionais chineses!

Eu, correndo o risco de parecer antiquado (ou antigo), prefiro tambem um livro, de papel, nas minhas maos, do que qualquer opcao digital...

Pio Borges disse...

Marcelo, compre o livro 1422 e fique ainda mais fascinado...
Não há a menor dúvida de que as informações sobre terras, culturas e pessoas distantes é muito dispersa.
Aliás, pensei agora, sobre as mais próximas TAMBÉM... ahaahaaha.