terça-feira, 5 de maio de 2009

Parece que foi hontem. Ou não ?

Há 47 anos , em 1962, nesta data Teresinha e eu nos casamos. Tínhamos 21 anos, tivemos três filhos, perdemos um deles e temos dois netos, filhos da Patrícia, a filha mais velha.
Ao longo destes anos em paralelo às nossas vidas pessoais a História manteve a sua programação variada no Brasil e no resto do mundo.
Participei de alguns destes momentos ao vivo e a cores. Minha atividade de jornalista - com registro no Ministério do Trabalho em 1960, dois anos antes de casar - me deu o privilégio de testemunhar pelo menos até 1971 a história do Brasil de uma primeira fila.
Conheci presidentes, bandidos, intelectuais, cientistas e os entrevistei como repórter jovem, mas apoiado pelos meus sobrenomes jornalísticos - do Diário de Notícias, do Estado de S. Paulo, de Seleções.
Em Seleções, contratado aos 23 anos como talvez o mais jovem editor de livros da organização comecei a aprender sobre marketing direto e tive a sorte de obter estes novos conhecimentos na mais bem sucedida, mais honesta, mais consistente fonte existente sobre esta arte de envolver as pessoas neste planeta.
Esta feliz união de jornalismo, com marketing direto, com Seleções, com o meu grau de bacharel em direito, e por uma porção de iniciativas educacionais e profissionais determinou o ritmo da vida do casal; nossos ganhos e nossas perdas.
Casamentos com 47 anos de duração, (uma vez que os nubentes continuem vivos...) são a norma, e não a exceção como as pessoas tendem a achar quando falo do nosso número de anos de casados.
Os casamentos rompidos - hoje segundo o IBGE, a minha fonte - um a cada cinco, não constitituem um número assustador.
O que é assustadora é a tendência meio envergonhada de muitas pessoas verem casamentos longos assim como o fruto da falta de imaginação do casal.
Será que estes dois não tem imaginação? Será que são tão cabeças duras que não se permitiram mudar de ideia durante todos estes anos?
Marqueteiramente e jornalisticamente decidi esclarecer esta dúvida e me permiti aqui, sem consultar a Teresinha, oferecer a nossa receita simples para se viver juntos por pelo menos 47 anos:

1. É preciso amar um ao outro e vice-versa de verdade. Embora esta história de amor deva ser a coisa mais difícil de se definir. Amor não é um software comprado numa loja facilmente operado por qualquer um.

2. Amor não é adoração do outro, ao contrário, é feito de profundas discordâncias, discussões acerbas, diferentes pontos de vista, mas tendo por base a disposição cordialmente "democrática" de respeitar o que esteja sendo dito pela outra parte.

3. Evitar, por isto mesmo, que uma noite se passe diante de qualquer discordância (menor ou maior) pois o processo de sucessivas discordâncias adormecidas leva sem muita dificuldade à incompatibilidade pessoal genérica.

4. Incorporar à vida familiar - honestamente, sem ter de demonstrar isto a ninguém - o respeito aos demais habitantes da terra, a começar pelos filhos, parentes, amigos, conhecidos, gente de que gostamos muito e até das pessoas de que não gostamos nada.
Isto dá um sentido de harmonização à vida. Não se pode ser feliz sozinho, como diz a letra da música. Quem discorde por princípio, e quem discorda raivosamente, tem sérios problemas. Não se tem condição de navegar com tranquilidade, pois cada vento, cada onda deixam de ser fatos da vida para se tornarem problemas difíceis de enfrentar todos os dias.
Esta visão conturbada e distorcida de fatos do dia-a-dia gera o stress fatal para a harmonia pessoal e conjugal.

5. A questão sexual não pode, nesta ótica, ser questão sexual. É a oportunidade única e excepcional do casal gozar profundamente a máxima reação animal com a mais sofisticada racionalidade reservada por Deus somente aos exemplares de nossa espécie. Não é de se estranhar que uns espertalhões façam da busca do prazer sexual uma religião, o potencial de seguidores é infinito.

6. Fé religiosa é um outro ingrediente da receita para o casamento prazeroso por 47anos. Teresinha a tem num grau de intimidade que me fascina, que impõe o meu respeito e me inibe de questionar conceitos racionalmente repletos de incoerências que no entanto ensejam aos fiéis a uma coerência amorosa que se irradia por tudo a seu redor. Sempre que seja honesta na sua manifestação.

7. Honestidade é uma palavra complicada também. Os positivistas, um grupo que influenciou tanto a nossa vida de brasileiros a ponto de conseguir colocar o "Ordem e Progresso" na bandeira, tinham outras "verdades" trasmitidas com fervor religioso a seus seguidores. Uma delas é o "viver às claras". Não me parece que seguiam suas regras com muito empenho - havia um grande quebra pau entre os seus seguidores - mas na minha visão de jornalista (observador, neutro, externo) a honestidade no casamento de 47 anos deve ter no "viver às claras" a sua definição.
Fico meio assustado ao me ver agora concordando com estes cidadãos hoje praticamente desaparecidos, pois me veio à cabeça concordar com a sua frase completa resumida na bandeira: O Amor por princípio, a Ordem por meio e o Progresso por fim". Isto faz os casamentos durarem 47 anos.

8. Tivemos durante os nossos 47 anos de casamento momentos de maior riqueza e de grandes dificuldades financeiras, em que a minha culpa operacional poderia invalidar todas as parcerias econômicas essenciais para a preservação do casamento. Mas, acredito eu que a certeza da honorabilidade do que fiz sem necessidade de um convencimento de qualquer espécie assegurou a Teresinha que estávamos agindo bem e que merecíamos o apoio mútuo para superarmos os momentos duros. E o fizemos.

9. A perda do Guilherme depois de Teresinha ter doado a ele um rim, e da sua irmã ter repetido o gesto quando não foi possível a cura foi um choque emocional de proporções inimagináveis. Mas a forma de convivermos com a perda nos fortaleceu como família. Somos muito emocionais, meio infantís até. O que nos arrasou também nos fortaleceu, ao valorizarmos os anos de amor manifestado com tanta naturalidade e profusão entre nós.

10. Tudo vem convergir acho eu no amor às ideias e a busca contínua de novas coisas e atividades a desenvolver. O Roberto, o filho mais jovem, faz isto todos os dias. Vemos nele um fruto do melting pot construído por nós meio ao acaso.A condição humana depurada ao longo de nossos 47 anos de convivência nos leva a buscar , a identificar e valorizar com muito entusiasmo todos os momentos de felicidade desejados por todos. Hoje em especial.


Quero tornar bem claro que enuncio estas dez regras sem qualquer pretensão de vê-las adotadas urbi et orbi como algo melhor do que os conselhos sentimentais, ou astrológicos, ou de qualquer outra espécie oferecidos pelos coleguinhas jornalistas em suas publicações.

Trata-se apenas de uma necessidade de usar este Almanaque do Pio como almanaque mesmo para compartilhar algumas dicas, dentre as quais você leitor talvez possa escolher uma ou outra como válidas para o seu projeto conjugal.

Detalhe, Teresinha não viu este texto e é bem capaz de que brigue comigo por ter eu ousado dizer aqui as coisas que disse...

7 comentários:

Pio Borges disse...

Para meu alívio e grande prazer ela aprovou o texto. Reclamou muito por não ter visto ANTES.

Braulio França disse...

Pio, seu relato é corajoso em vários sentidos e confirma tudo que já ouvi falar de você através das histórias que o João Marcelo me contava. Não nos conhecemos pessoalmente mas as vezes me dá impressão que sim...um abraço!

railer disse...

parabéns pio! acho que cada casal que passa tanto tempo junto assim tem a sua receita de sucesso mesmo e, que bom, quando compartilham!

Pio Borges disse...

É muito gratificante receber comentários como os seus Bráulio e Railer.
A decisão de expor aspectos nunca publicamente mencionados pode parecer coisa que só gente idosa faz, meio descompromissadamente.
Neste caso fiz questão de ser absolutamente honesto em tudo o que disse.
Espero conhecer o Bráulio ao vivo, e rever o João Marcelo, e mais uma vez me congratular de ter tido você Railer como colega cheio de qualidades na ESPM.
Obrigado!

João Marcelo disse...

Pio! Descobri só hoje o seu almanaque! Fantástico, vou te visitar todos os dias! Parece que foi ontem.... eu já tentei muitas vezes e não consegui construir algo assim! Só consigo mesmo te dizer: parabéns, Mestre!

Pio Borges disse...

João Marcelo, que bom receber a sua visita e afastar as saudades ...
O Almanaque, como você poderá ver, não se atualiza todos os dias.
Mas, cada vez mais quero dar a ele a identidade de um Almanaque. Notícias variadas, sobre temas mais próximos do meu dia-a-dia , e que possam ser divertidas ou úteis a quem lê.

Abração

João Marcelo disse...

Pio! Como eu só descobri o Almanaque agora, tenho uma grande vantagem: os textos anteriores, que matam mesmo as saudades! Eu costumo dizer para as pessoas que começam agora no Marketing Direto o seguinte: o meu segredo é simples...na minha época existiam os cursos "Criação de Marketing Direto" e "Planejamento de Marketing Direto", com o Pio Borges! Eram realmente fantásticos e, apesar de todo o crescimento da ABEMD, ainda tenho saudades daqueles que eram os melhores anos da Associação!