terça-feira, 20 de março de 2012

O INFERNO ESTÁ CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, ESPERO...



No último domingo, dia 18 de março de 2012, se alguém tinha dúvidas de como a corrupção existe no Brasil (e no mundo ) deixou de ter.Foi uma lição histórica transmitida pelo Fantástico, na TV GLOBO.



As pessoas falaram em vídeos de alta qualidade como asseguravam pagamento de comissões ao comprador (repórter disfarçado ) de até 20% sobre o valor das notas fiscais de serviços por ele comprados para um hospital no Rio de Janeiro. Numa lição aplicável a qualquer comprador ou a qualquer vendedor de serviços a órgão públicos, a empresas privadas, a pessoas físicas, a quem você possa imaginar.


Se corromper alguém pode ser classificado como pecado, o que vimos no Fantástico foi como chegar ao inferno numa aula de unsa 15 minutos...



Em geral todas as pessoas na tela tinham expressões simpáticas. Não pareciam bandidos de filmes, nem muito menos de membros do grupo dos irmãos metralha.



Estavam ali diante das câmaras cumprindo a sua rotina diária de negociar com compradores de órgãos governamentais a quem asseguram ser parte do processo de compras a reserva de uma comissão para quem faz a encomenda.



Percebi estar diante de uma autêntica cena obscena.




Obscena, na sua raiz, é a cena que está fora da cena. É a cena que não é exibida ao público e fica apenas nos bastidores, como a troca de roupas das atrizes feita por trás do palco.




Voltaire escreveu sobre os MAUS em seu Dicionário Filosófico, um verbete perguntando aos leitores se as pessoas nasciam más , e aprendiam a ser boas ou se ocorria o contrário: nasciam boas e eram forçadas a se tornarem más.



Desde meu primeiros anos como repórter de jornal nunca me deparei com um bandido, mesmo os já condenados e cumprindo penas, que demonstrasse um sentimento autêntico de culpa.



O que fizeram, segundo o seu mais honesto depoimento, teria sido mal interpretado e ali estavam passando por maus momentos devido è incompreensão das autoridades.



Constatei esta situação ao entrar na penitenciária Lemos Britto, no Rio de Janeiro após uma rebelião de presos logo depois de dominada. Os meus entrevistados eram todos bandidos, e todos eles se diziam injustamente condenados.




Passam-se os anos. Décadas de escândalos diversos e em especial de escândalos que na maior parte das vezes não chegaram sequer à esfera judicial.



O escândaso exibido no Fantástico é apenas o mais recente. E o mais bem comprovado. Mas seus envolvidos, mantêm um denominador comum com os presos que entrevistei há décadas: ninguém ao propor as comissões e depois ao desminti-las (numa entrevista aberta posterior) se julgava culpado de qualquer mal feito.


Cumpriam apenas um procedimento normal de mercado.




Um dos líderes do processo de corrupção disse, quando era gravado secretamente, que aprendera a proteger os seus corrompidos como os corrompidos iriam protegê-lo.Quase disse quem tinha ensinado a ele este comportamento ético. Mas, na minha visão deconfiada, acredito que tenha evitado dizer que seu mestre teria sido alguém sempre citado nestes depoimentos : seu pai ou seu avô, sempre pessoas respeitáveis por sua antiguidade e expectativa de sabedoria em seus conselhos.


O corruptor, se imaginarmos que tenha nascido bom, teria sido desviado do bom caminho por esta pessoa que havia assegurado a ele que a ética a ser observada era proteger o corrompido para que o corrompido o protegesse.


A corrupção na área da saúde tem um agravante: toda a grana desviada para o bolso de quem seja deixa de ser aplicada na sua razão maior de existir: ajudar a preservar a saúde e a vida de quem recorre aos hospitais públicos.





A maneira cínica de eximinir-se desta terrível culpa é se convencer que quem dá a vida é Deus, e que a Ele cabe poupar da morte ou invalidez os seus escolhidos.




Lembro dos cruzados que em ataques furiosos trucidaram todos os habitantes com cara de islamitas (homens, mulheres e crianças, as ruas de Constantinopla tinham rios se sangue...) No entanto os crfuzados se eximiam de qualquer culpa ao fazerem isto.dizendo que ao morrerem todos chegariam às portas do céu e que Deus saberia condernar ao inferno os infiéis, sacrílegos e abrir as portas do paraíso para os seus que tivessem sido mortos por engano...





O fato é que ao longo dos milhares de anos de mudanças na humanidade é bem possível que um inferno criado pela fé de qualquer das tribos dos homens, tenha recebido todos os que nas suas crenças mereceram ir para lá. Os maus têm de ser a maioria nestes locais, apinhados, poluídos, a essência do que possa ser definido como um inferno de lugar.





E muito triste imaginarmos que vão para estes infernos todos que tenham tido apenas "boas intenções". É um bocado duro imaginar um eterno castigo para os que tenham ido para lá por que as suas boas intenções nunca foram transformadas em boas ações.





Mas, que pelo menos aí, imaginemos , serão encontrados - espero que por outro repórter - todos os bandidos que ao longo de toda a existência da humanidade cometem barbaridades sem se sentirem culpados de coisa alguma.



E que em suas novas instalações, de onde não há hipótese de recurso a ninguém, chegaram tentados pelo próprio demônio, interessado em aumentar a sua corte de diabinhos para tornar a "vida" de todos ainda mais infernal...



Mas esperemos que este seja um castigo assegurado a estes malfeitores. Se tudo isto for apenas uma lenda é uma grande sacanagem milenar!!!



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