sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dicas para a busca da felicidade ou "Life, liberty, and the pursuit of happiness



A felicidade vem quando o seu trabalho e as suas palavras são um benefício para você e para os outros. Buda

No ultimo feriado em conversa com um amigo de infância e de toda a vida nos perguntávamos sobre o que fazia as pessoas felizes, livres de tensões, livres para gozar a vida.

Concordamos que o dinheiro e todo o poder que ele proporciona não é, nem pode ser, a melhor resposta.

Um cara com todo o dinheiro que possa ter não pode enfrentar os maiores desafios da vida somente com dinheiro e ser capaz de superá-los. Tornando-se mais feliz com isto.

Por exemplo: preciso ou quero viajar, não há vôos para lá, alugo ou compro um avião e pago o que for necessário para chegar aonde quer que seja com todo o conforto e com o mínimo de inconveniências.

Claro que isto é muito bom, mas numa escala de 1 a 10 não chega a um 3 para definir a felicidade obtida.

Talvez se a definição de Buda para a felicidade fosse a regra oficial e única a nota para esta viagem e suas circunstâncias pudesse ser um pouco mais alta, já que um ato como este seria muito proveitoso para muita gente.

O pai deste meu amigo, segundo ele, dizia que tudo o que dinheiro pode comprar é barato.

Um belo conceito, filosófico e moral que não impediu que ao longo da vida tanto ele quanto o filho se dedicassem a fazer coisas que geraram riqueza. Mas geraram também as dúvidas sobre como alcançar a felicidade.

Depois da conversa o tema me voltou à cabeça e me lembrei de uma citação que faço em algumas palestras e aulas quando falo nas reações humanas diante da sociedade.

Trata-se de uma frase na Constituição norte-americana, escrita por Jefferson, aparentemente inspirada pelo filósofo inglês Locke reproduzida no título deste texto.

Assim como temos o “Ordem e Progresso” dos positivistas de Augusto Comte (1798-1857) em nossa bandeira, resumindo a frase toda : “ O Amor por princípio, a Ordem por meio e o Progresso, por fim” os americanos fundamentaram o seu país em “Vida, liberdade e busca da felicidade”.

(Aliás, esta história de positivismo, amor, ordem e progresso é muito pouco explorada por quem estuda a formação atual do Brasil. E que mereceria pesquisa mais profunda, hoje sem os ranços do final do século 19.)

Em relação à felicidade, tema deste texto, Vinicius e Tom definiram e esclareceram muito bem a forma como devia ser vista nesta obra prima:

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar


A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor


Logo, a partir disto tudo fica bem claro a mim que a felicidade não é um destino; é um caminho que deve ser percorrido com atenção e carinho todos os dias de nossas vidas.

Quando chegamos à idade adulta há uma tendência de nos acomodarmos em nossas tocas, em nossas atividades ou empregos, em nossos conhecimentos, em nossos relacionamentos.

Sem sombra de dúvidas, pela mera observação das pessoas e de mim mesmo, a acomodação é sinônimo de inação do decidir não fazer.

Algo que tem o seu momento maior – o não fazer definitivo - com a morte.

Sempre fiquei fascinado por pessoas que pelos mais variados motivos têm ideias sólidas e indiscutíveis em relação a seus temas de vida.

A forma mais chocante destes fechamentos em mundos restritos ocorre com alguns crentes fundamentalistas que não só têm a certeza de que o mundo foi criado todo há 5 ou 6 mil anos atrás, como tudo o que exista ou vá existir decorre desta alienação, desta abdicação da capacidade de pensar.

Também assisti este mesmo tipo de abdicação da capacidade de pensar em comunistas de carteirinha e até há pouco tempo para minha surpresa percebi um laivo de fascismo que preferi não explorar num amigo de amigos numa defesa/justificativa da atuação de Mussolini numa conversa amena sobre comida mediterrânea.

Pensei e acho que pensei bem: para que arranjar um debate que vai azedar esta reunião social, correndo o risco de talvez levar a pessoa a abdicar de uma ideologia possivelmente conservada num armário durante toda a vida, diante de tantas outra pessoas que nada têm a ver com isto?

O radical é um idiota que prefere ficar num canto da sala olhando para a parede sem se voltar para o lado e ver as belezas do mundo por uma janela.

Como não cair na armadilha da imobilização progressiva?

A Internet se tivese sido descrita a qualquer visionário que estivesse imaginando criar uma religião em qualquer lugar da terra, em qualquer época do passado, não tinha como deixar de levar o primeiro lugar como algo merecedor da fé do povo.

Aquela frase famosa de Protágoras sobre o homem ser a medida de todas as coisas se aplica com muito mais propriedade à Internet. A frase completa do Protágoras é ainda melhor:

"O homem ( ou a Internet) é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."

Hoje, pouco mais de 10 anos depois de sua popularização, você encontra na Internet tudo de que precisa saber e tudo o que você precisa informar.

Até cirurgias complicadas já são feitas à distância por cirurgiões ligados pela Internet.

Imagine o que vai acontecer nos próximos anos e nas próximas décadas?

Nós temos diante de nossas mãos e de nossos olhos um menu de possibilidades de mudanças tão grande quanto é o universo. E somente cabe a cada um de nós explorar o que seja de nosso interesse.

Tenho meus defeitos curtidos ao longo dos anos e acho que tudo que possa ser chamado de passatempo é sinônimo de inação. É perda de um tempo que não tem como ser recuperado na vida, cuja extensão – por mais longa que seja – me parece breve demais.

Mas, nesta busca da felicidade não podemos deixar de lado o entusiasmo juvenil em descobrir coisas novas, coisas que nunca fizemos e coisas em que vamos nos arriscar se decidirmos fazê-las.

Pessoas mais idosas tremem de medo diante da possibilidade de errarem em alguma coisa que vão fazer. Têm medo de pagar micos.

Ora , na busca da felicidade, quem não se arrisca não petisca. Pode parecer até um incentivo à contravenção e ao desrespeito aos ordenamentos legais. E até em certos casos será isto mesmo.

Pegue uma revista editada no início do século 20 e veja como gente ousada e desrespeitosa criou ao longo do século 20 a roupa que homens e mulheres (mais mulheres do que homens, é verdade) estão vestindo hoje.

Para tornar a coisa bem objetiva: a sua mãe seria presa em 1900 se aparecesse em público com a roupa de banho que ela usa, ou usou, por mais bem comportada que pudesse ser considerada.

Não há na história do homem melhor oportunidade para repensarmos o que fazemos e tratarmos de fazer mais.

Em nosso benefício em primeiro lugar, mas seguindo a recomendação de Buda, vamos nos tornar mais felizes se tornarmos as nossas novidades um benefício também para os demais, nem que seja uma pessoa adicional.

Se as tristezas não têm fim temos de trabalhar todos os dias para construir uma felicidade nova em folha a cada manhã. Enquanto você estiver vivo ou viva, claro..

2 comentários:

João Marcelo disse...

Uau! Lí algumas vezes, não saberia como adicionar uma única palavra! Mas, deixo meu elogio e o agradecimento pelo tempo que você dedica a escrever o Almanaque, Pio!

Ainda, tantos anos depois, me sinto seu aluno e estagiário, aprendendo agora por aqui!

Pio Borges disse...

João Marcelo você já pode ficar sabendo que ao longo da vida e dos próximos anos vai ter muito a adicionar ao o que disse aqui.

Quando chegamos a novas idades acho que tal como alguém suibindo uma montanha , temos mais condições de examinar o que ficou para trás, ou para mais abaixo, uma vantagem imensa ao falar disto para quem vem atrás.

E você tem a vantagem de sempre ter prestado muita atenção à vida.

Obrigado pelo seu comentário.