quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Para fazer você pensar sobre a perfeição da natureza e a imperfeição dos homens...



Protesto de baleias na Nova Zelândia. Todas morreram!

Desde menino urbano morador em Copacabana, mas "proprietário" da floresta tropical nos morros que eram o meu quintal, e que ficavam no fundo da minha rua e de todas as ruas mantive uma relação muito sadia com esta questão de natureza.

A natureza era muito bonita, as plantas tinham tantas tonalidades de verde, eram tão diferentes entre si, e conviviam com os bichos, especialmente os pássaros que afinal de contas estavam junto a elas há alguns milhares de anos, independente de eu estar lá "explorando" trilhas, lançando facas em troncos imitando lançadores de facas em filmes sobre a idade média, tentando fazer fogo friccionando pedaços de madeira seca (nunca consegui) e outras bobagens.

No morro, o nome genérico que dava àquela imensa floresta, havia também outros bichos: lagartos, cujo nome errado genérico na minha cabela era "camaleões" e lagartos imensos rajados de amarelo e marrom cujo nome nunca soube.

Havia cobras cujo destino - quando descobertas, só podia ser a completa destruição com cabeça dilacerada a pedradas. Não ficava olhando para a cobra para saber pelo formato da cabeça se ela poderia não ser venenosa. Cobra era cobra, bicho safado que havia causado a expulsão de Adão e Eva do paraíso, uma sacanagem a ser punida pela eternidade, ainda mais que nunca se soube se a cobra do paraíso era venenosa ou não.

Havia as aranhas que se dedicavam com um vigor sem fim a tecerem teias dignas de aparecer hoje no Nat Geo. Eram imensas, se estendiam por muitos metros, entre árvores e arbustos e prendiam quantidades imensas de insetos cujo destino eram as fauces horrorosas daqueles bichos.

Nunca matei as aranhas, mas sempre que me dava na veneta arrebentava alguns fios das teias para que elas trabalhassem um pouco. E deixassem aquela vida fácil de comerem os insetos voadores "burros" que ficavam presos lá aguardando a hora de serem traçados.

No mar só havia chance de ver bichos de perto no Arpoador, junto às pedras. Muitos peixes, peixinhos e bichinhos flutuantes minúsculos que podiam ser planctons.

Afinal o nome arpoador foi dado porque alguns cariocas primitivos - sem barcos, com certeza - iam para lá para caçar baleias que chegavam em algum momento do ano.

Outros bichos marinhos visíveis eram as arraias, cuja aparição gerava o grito do "olha a arraia" e fazia todo mundo - naquela época - sair da água pois todo mundo sabia que elas tinham um rabo peçonhento que se te acertasse em algum lugar do corpo "nuna iria cicatrizar".

Botos e baleias distantes também apareciam ocasionalmente.

Ora, sem admirações míticas pela natureza, vivi a natureza da minha infância numa atmosfera de entendimento cordial. Nunca cacei bichos, e matar mesmo só matei as cobras e os camaleões. As cobras porque eram todas perigosas por definição e os cameleões até por que dizia-se que arrancando o rabo deles, que ficava pulando como se estivesse vivo. iria nascer outro rabo novo igualzinho sem maiores problemas para o bicho.

Nunca acompanhei a recuperação de nenhum deles e desconfio hoje que
tanto o rabo quanto o bicho acabavam serrados e comidos pelas formigas.

O que não havia na natureza, nem nunca houve, foi a grande e sábia paz, onde todas as formas vivas viviam em perfeita harmonia.

Os bichos e as plantas tinham de se virar para conseguir a cada dia prorrogar as suas vidas, na maioria das vezes, às custas da vida de outros vegetais e outros animais.

Nós, os homens, nos sentíamos acima desta natureza toda porque tínhamos como sobreviver pois aprendêramos isto ao longo da história.

Daí o apelo no título deste post diante desta foto recente de baleias suicidas na Nova Zelândia.

Nós nos sentimos donos do mundo, responsáveis por tudo de bom e agora cada vez mais com tudo de mal que ocorre por aqui.

O aquecimento global é um problema muito sério que vai nos afetar barbaramente nos próximos anos, como já nos afetou há algumas centenas de anos. O esfriamento global também qusse eliminou todas as formas de vida na Terra, por várias vezes, há alguns milhares de anos.

Nem eu, nem meus avós, nem seus avós tiveram qualquer responsabilidade sobre estas catástrofes terrestres, pois eles nem se davam conta que havia uma terra.

O meu choque e o meu questionamento se dá quando vemos agora, quase 100 baleias que decidem em conjunto lançarem-se às areias de uma praia deserta, numa região quase deserta afastada de todas as outras áreas habitadas da Terra para morrerem assadas pelo sol e pela fome.

Não se trata de greve de fome para protestar e chamar a atenção do mundo para as causas defendidas por eles.

Se não fosse a imprensa a morte destas baleias passaria despercebida, como passaram despercebidos milhares de outros suicídios coletivos de baleias nos últimos séculos.

Baleias e golfinhos são os bichos mais independentes do mundo. Conseguem viver bebendo água salgada, e conseguem ir para qualquer lugar da Terra onde haja mares e oceanos.

Golfinhos, segundo pesquisas de universidades respeitáveis, estão um grau abaixo dos homens em termos de inteligência. Não inventaram as coisas que os homens inventaram por uma razão muito inteligente: eles não precisariam.

Baleias, que são golfinhos maiores, não devem ser mais burros.

Se as baleias decidem pelo suicídio elas devem ter motivos muito sólidos.

Há os radicais da ecologia que atribuem estes suicídios às condições adversas da águas pela ação dos homens. O que certamente acontece e aconteceu. Mas, para um suicídio "justificável" este suicídio devia ocorrer onde o mar estivesse mais poluído e não exatamente onde o mar está mais limpinho no mundo.

O fato é que as baleias se jogaram nas areias para morrer e conseguiram o que queriam. Não havia força humana capaz de arrastá-las para o mar aberto e mesmo que houvesse, não existiria força humana para impedi-las de se lançarem às areias logo em seguida à salvação forçada por nós.

Aprendi no meu convívio com a natureza que é impossível pensarmos com a cabeça dos animais que nos cercam: você pode gostar muito de seu bicho de estimação, mas ele é ele e você é você. As coisas que ele faz não seguem a lógica (por mais ilógica que seja|) humana.

Se isto fosse possível caio na tentação de me associar um sentimento de perda das baleias para justificar o seu suicídio em massa: um tédio mortal, com todos os títulos.

Se as baleias são inteligentes não é difícil imaginar que a vida das baleias é um saco, se analisada por um bicho inteligente.

Ficar navegando incessantemente em torno da Terra para...nada. Ano após ano, século após século, milênio após milênio.

Portanto aqui vai uma dica para fugir da tentação do suicídio individual ou coletivo:
fuja do tédio.

Não se deixe levar por uma existência chata.

Pense nas baleias!!!




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