sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Do saber saber ao fazer fazer... (1)

Esta semana participei de uma conversa que me ajudou e inspirou a entender melhor os desafios dos profissionais de marketing no século 21. Ora, você poderá se perguntar: Como somente uma conversa tem esta capacidade para resolver tão grandes mistérios?

É que este tema há muito tempo me fascina e tal como um caçador de tesouros sempre em busca de indícios da riqueza almejada estava preparado para buscar estas inspirações, mesmo numa conversa. A grande diferença entre uma conversa agradável e útil e uma outra muito mais profunda está na experiência de vida das pessoas envolvidas.

Vou recorrer a uma metáfora para justificar o que digo acima; todos nós profissionais já com alguns anos de trabalho, somos usuários ativos da aviação comercial. Uma conversa entre nós será sempre útil para entendermos melhor todos os seus problemas e soluções – do ponto de vista do passageiro, pois esta é a nossa especialidade.

Mas para realmente entender o que ocorre e o que pode ser feito uma conversa com um piloto com muitas horas de voo é que realmente pode nos informar sobre o assunto.

E o mesmo ocorre diante de qualquer tema, desde como o pipoqueiro faz a sua pipoca e escolhe os locais onde deva parar a sua carrocinha, ao executivo encarregado de formar equipes para levar a sua empresa aos níveis de sucesso ( e atividade) projetados por seus controladores.

O início da conversa foi sobre um tema bem antigo – como formar e manter equipes vitoriosas – quando concluímos que hoje temos os mesmos problemas, mas as dificuldades se tornaram muito maiores. Ou se a palavra maiores incomoda, podemos trocar o adjetivo por diferentes. E ponha diferentes nisto.

Há a história de um famoso professor de economia numa universidade americana que ao ser criticado pelo coordenador do curso por aplicar exatamente a mesma prova para os seus alunos, ano após ano, justificou a sua decisão dizendo:

- Claro que eu sei que a prova é a mesma. O desafio para os alunos são as respostas que mudam de ano para ano...

Claro que a historinha foi bolada para derrubar o lado científico da economia e sacanear todos teóricos obrigados a engolir e a reformular suas regras a cada novo soluço no mundo dos negócios globalizado.

O problema que abordamos em nossa conversa, no entanto, poderia ser equiparado aos soluços da economia, com outra roupa, pois também são soluços aplicados a algo muito mais visível e conseqüente. À administração do marketing numa empresa com disposição para permanecer ativa e bem sucedida pelas próximas décadas.

Desde o mais óbvio: qual será a participação percentual do off-line diante do online no futuro – no amanhã mesmo – destas organizações?

Há uma forma de caracterizar o mundo dos negócios que ao ser usada por alguém dava a esta pessoa um ar imediato de sofisticação e know how .

- Business, as usual...

Estas palavras eram como um embrulho mágico que servia desde para explicar um grande sucesso da empresa – e do executivo – numa concorrência contra o seu maior rival, em que sem precisar dizer, demonstrava a confiança dele em sua equipe bem formada até para justificar presentes vultosos enviados a algum corrupto para fechar negócios de maneira pouco ética.

Concordamos em nossa conversa que a fórmula do Business as usual a cada novo dia se torna mais difícil de ser usada por que o usual implica hoje em muito mais sofisticações. Sai de campo o usual e entra cada vez mais em campo o unusual como o grande segredo para as novas vitórias.

E aqui vai outra metáfora: é como se o técnico de um time de futebol buscasse reforços não mais em jogadores talentosos para as posições tradicionais dos que já jogam em seu time. Os reforços buscados por ele poderiam ser atletas tão diferentes quanto um iatista, um acrobata, um campeão de tiro, ou quem sabe? Até de um gandula...

Quando estas substituições realmente dão certo podemos entender como as fórmulas tradicionais que foram repetidas por décadas deixam de ter importância, E como deverão se preparar os novos executivos para exercer as suas funções de líderes de equipes.

Mas, ao analisarmos os empreendimentos de sucesso, vamos constatar que os seus líderes sempre foram derrubadores de mitos e acabaram por se tornaram eles próprios criadores de novos mitos.

Se pensarmos nos lideres do passado esta ousadia de buscar novos paradigmas é mais fácil de aceitar, afinal os paradigmas ainda estavam sendo estabelecidos. Hoje em dia, porém, há um apreciável grupo de bilionários que não completaram os seus cursos universitários e muitos outros que começaram os seus negócios nas garagens de suas casas ajudados por meia dúzia de parentes e amigos.

Em todos os casos a chave para seu sucesso foi atrair e manter em suas equipes (desde a primeira até as mantidas em suas grandes empresas) gente tão dedicada quanto eles em obter o sucesso.

A minha conversa com este grande executivo era como hoje é possível identificar estas pessoas e atraí-las para as nossas equipes diante de um mar de outras opções continuamente colocadas diante deles e mais ainda, diante dos melhores.

Hoje cada integrante de uma equipe tem especialidades que tornam o seu emprego único. Uma boa equipe é formada por campeões em suas atribuições e a perda de qualquer um se torna realmente uma grande perda, pois não será fácil contratar outra pessoa para aquele lugar naturalmente se ele estiver fazendo as coisas certas.

Quando cursei há algumas décadas o IAG da PUC, do Rio de Janeiro , vejo hoje que fui muito empreendedor e ousado para dizer o mínimo.Na ocasião era formado em Direito por uma das melhores faculdades do país; era jornalista empregado numa das maiores editoras , chefiava uma equipe de profissionais reconhecidos no mercado (todos mais velhos do que eu) e tinha a experiência viva de ter trabalhado na maior agência de publicidade do mundo.

No IAG, nenhum de meus colegas fazia ou iria fazer coisas parecidas com as que eu fazia e com absoluta certeza nas minhas áreas de atuação deixando cabotinamente aqui toda a modéstia de lado, achava que quem poderia dar aulas sobre todos os temas seria eu.

Mas, de saída, nas primeiras aulas recolhi-me à minha insignificância e passei a respeitar os professores pelo muito mais que sabiam até sobre temas que eu deveria saber e não sabia. Eles sabiam mais vendo tudo sob ângulos que jamais havia considerado no meu dia a dia.

Ou que não havia prestado atenção para saber, o que constitui o maior mal da ignorância. Quando você decide não se interessar por algum assunto de que entende trata-se de uma decisão ditada por sua inteligência. Quando você nem sequer sabe que não sabe equipara-se a um burro olhando para um palácio.

E durante todo o curso levei o meu burro a entender melhor vários palácios, desde os técnicos devidamente equacionados e relacionados às pesquisas de grandes autores até os nascidos da experiência vivida dos professores.

Um destes ensinamentos não usuais foi o de como deveríamos prosseguir o meu aprimoramento profissional dali em diante. Foi exposto ao longo de uma conversa informal durante uma aula e sugerido como uma dica fora do conteúdo das disciplinas da grade: deveríamos estar atentos a quatro fases neste processo de adquirir e utilizar conhecimentos ao longo de minha vida. Na seguinte ordem:

1.Saber saber
2. Saber fazer
3. Fazer saber
4. Fazer fazer


Estas quatro fases não se tornaram um mantra obsessivo em minha vida, mas de vez em quando me forçava a analisar o momento para ter certeza de estar seguindo a ordem certa. (continua)

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