Todo o processo de comunicação de marketing, sem que possa parecer megalomaníaco aos que não o usam - é a meu ver o ponto máximo na capacidade do ser humano comunicar as suas idéias.
No momento em que pesquiso material para preparar um livro sobre as qualidades necessárias para o comunicador de marketing hoje, voltei a me interessar pelo ensino nos séculos que nos antecederam e o efeito destes conhecimentos para nós no século 21
Na Idade Média - apontada por vezes como os anos negros da cultura - as universidades européias começaram a surgir. As aulas eram em latim, pois nesta época era impessável usar outras línguas regionais que sequer eram organizadas como línguas. Eram muito mais dialetos derivados do latim em que os habitantes de cada região usavam as palavras por eles preferidas para dizer o que queriam dizer, sem ter muita preocupação de serem corretamente entendidos.
Para ser corretamente entendidos tinham de usar o latim, que valia para todos.
Em latim as universidades repassavam a seus alunos as 7 artes do homem. Daí o título ainda vigente em países europeus e na América do Norte de bacharel em artes, ou BA.
Não confundir com o MBA em que as letras referem-se a Master em Business Administration. Naturalmente um título precedido pelo BA.
Para obter nas universidades da Idade Média o título de bacharel o aluno precisava ser aprovado nas 7 artes.
Três artes preparatórias, Gramática, Lógica e Retórica.
Os aprovados nestas primeiras três artes - a Trívia - podiam seguir o curso nas quatro próximas matérias - Quadrívia - Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.
Como professor universitário hoje não tenho dúvidas em afirmar que nenhum de meus alunos ao longo de algumas dezenas de anos de ensino seria capaz (sem se dedicar ao estudo intenso das matérias) ser aprovado na Trívia. A Trívia não trata de assuntos que sejam automaticamente dominados pelos estudantes de hoje.
Pelos melhores estudantes de hoje, para ser mais enfático.
E também não tenho dúvidas em afirmar que a Quadrívia reprovaria sem exceções qualquer aluno que ousasse prestar exames apenas com os conhecimentos adquiridos nos seus colégios e nas escolas superiores que tenham cursado.
Dependendo do curso superior de cada um, poderiam obter aprovação numa das matérias, nas quatro é que seria difícil.
E no entanto, podemos constatar, hoje há muito mais conhecimento descoberto e usado do que há 500 ou mais anos atrás.
A diferença mais significativa nos anos que se seguiram ao estudo da Trívia e da Quadrivia foi o uso prático do que era aprendido como um conhecimento acadêmico. Foi a utilização prática do conhecimento que deu a eles o maior valor.
Antes de falar na quadrivia e suas implicações no marketing vamos dar uma olhada no que estava por trás das três artes da Trívia:
A Lógica tratava das coisas como são conhecidas. Sem interpretações, sem possíveis distorções, pois se propunha estudar as coisas tal como elas eram.
A Gramática se dedica a como simbolizar as coisas estudadas na Lógica. Já que algo existe e é verdade torna-se necessário simbolizá-la com palavras para que todos possam também entendê-las.
A Retórica junta às duas primeiras matérias algo extremamente sofisticado intelectualmente : a retórica é a coisa como é c o m u n i c a d a.
Antes de serem promovidos à quadrívia os nossos antepassados universitários precisavam saber o que eram as coisas, como estas coisas deviam ser simbolizadas e como deveriam ser comunicadas.
Em termos de marketing atual temos o produto, o briefing para desenvolver a campanha, e a capacidade criativa de tornar esta combinação em algum tipo de mensagem que levasse outras pessoas a se solidarizarem com o que era comunicado.
Volto ao tema num próximo blog relacionando o composto da quadrívia.
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